Diego José é um dos novos promissores talentos do Quadrinho Cearense, como tantos, já colaborou com a famosa tira do Capitão Rapadura (do Mino), atuou em publicidade, participou do estúdio de animação Lunart e atualmente é animador do Estúdio Otto desenhos animados, com sede em Porto Alegre. Também atuou em ilustração editorial e agora aventura-se como editor de um audacioso projeto: a revista Oigo.
01- Diego José, como você descobriu a arte sequencial e quando percebeu que podia fazer suas próprias histórias em quadrinhos?
As primeiras HQs que li foram da Turma da Mônica, quando criança, e as primeiras histórias que fiz eram da Mônica, Cebolinha, etc. Eu era muito pequeno, acho que foi ali que percebi que poderia fazer HQs.
02 – Hoje entre suas diversas atividades, você ministra aulas de desenho e quadrinhos, não é? Você fez cursos de quadrinhos? Qual a importância desses cursos para quem quer levar as HQs e Cartum a sério?
Na verdade atualmente não dou aulas, mas estou disponível a isso. Meu tempo atualmente se divide entre meu trabalho em animação e a produção de Oigo. Fiz os dois cursos do Álvaro Rio e dois cursos com o Daniel Brandão, que recomendo. Os cursos são muito importantes. Sempre precisamos de mestres que nos guiem para fazer e descobrir o que realmente queremos. No começo quando não sabemos de nada, temos que saber até mesmo o que existe para não se saber, para depois termos chance de procurar saber… Deu pra entender? rs
03 – O Brasil recebe muita influencia cultural do Japão e dos Estados Unidos, como você acha que isso é refletido na produção dos novos contadores de histórias?
A influencia existe. Nós fomos influenciados e não vejo como as coisas que produzimos não tenham traços disso. Acho que pode ser arriscado você tentar fugir das próprias influências. No fim das contas você deve pensar mais nas suas próprias influências do que nas influências em escala nacional. Faça seus quadrinhos pra você mesmo, não pro Brasil. Essa é a melhor forma de ajudar o quadrinho nacional.
04 – Onde entra a cultura brasileira no contexto da produção atual de Quadrinhos Nacionais?
Por uma própria falha minha não consigo acompanhar os quadrinhos nacionais como gostaria. Mas das coisas que consigo lembrar agora, me vem à mente o próprio Capitão Rapadura, do Mino. Também existem algumas HQs com temática sobre o cangaço…Tenho certeza que existem mais coisas expressando a cultura nacional por ai. Mas quando se trata disso eu acredito em “Faça o que quiseres pois é tudo da Lei”. Se estiver no seu coração e veias a vontade de falar da cultura nacional, fale. Eu vi Akira quando criança e a obra se tornou uma grande influência pra mim, assim como a Turma da Mônica. Existem muitas influências externas. Não estou dizendo que isso é certo nem bonito, apenas que é verdade. E a verdade sobre o que quero dizer deve transparecer na minha HQ.
05 – Qual a influência que o design tem no seu trabalho com quadrinhos?
Durante meu processo de criação o design vem de alguma coisa que tenha ficado na minha cabeça das aulas que tive e minhas próprias influências visuais.
06 – Os leitores falam de uma semelhança entre vc é o protagonista da sua revistas Oigo. Até onde a vida imita a arte na sua produção?
Criei o Oigo como uma caricatura da minha personalidade. Da mesma forma que você exagera os defeitos de uma pessoa ao desenhar uma caricatura, eu exagerei meus defeitos e tirei minhas qualidades para criar a personalidade dele. A referência que falo sempre é o Stallone/Rocky Balboa. São bem parecidos, mas não são a mesma pessoa. (E as pessoas confundem os dois também) hehe. Existem outros personagens baseados em pessoas reais, fatos que remontam alguns fatos da minha vida, mas tudo misturado com super poderes, e coisas fantasiosas. Queria que a HQ fosse o meio do caminho entre um alternativo a la Robert Crumb e um super herói mainstream como Savage Dragon, por exemplo.
07 – Antes de chegar ao formato americano sua revista teve uma versão formatinho anos atrás. O que muda de uma versão pra outra? É a mesma história?
A história é a mesma, mas foi melhorada em todos os aspectos. É o que chamo de “versão remasterizada”. Fiz isso para padronizar as edições, já que quando terminei o número 02 estava completamente diferente no número 01.
08 – Que técnica você usa para fazer seus quadrinhos? Como é trabalhado o roteiro? Você faz uso de roteiro-leiaute ou roteiro cursivo mais tradicional?
Trabalho com roteiro cursivo. Meus roteiros são em sua forma escritos como roteiro de cinema, porque tive aulas de roteiro de cinema. Depois faço um layout. Pra desenhos e arte-final uso uma Tablet, que é uma ferramenta para desenho direto no computador.
09 – Sua revista teve lançamento no Dia do Quadrinho Nacional, em meio a lotação que foi a comemoração neste janeiro de 2011. E lançar uma revista nesse dia traz toda uma carga simbólica. Como foi o lançamento no seu ponto de vista?
Foi muito melhor do que eu esperava. A receptividade foi muito boa. A presença das pessoas foi bem animadora. Foi o primeiro lançamento que fiz pra série Oigo e só tenho a agradecer a todos que organizaram o evento, estavam lá, me ouviram e se interessaram pela HQ.
10 – Qual a importância dos artistas brasileiros comemorarem o Dia do Quadrinho Nacional?
Eu fui criado na igreja católica, e às vezes na missa o padre dizia que a missa realmente começa quando você sai da igreja e volta a viver sua vida. Acho que o Dia do Quadrinho Nacional deveria ser encarado dessa forma. O DQN deve ser um incentivo pra quem quer fazer quadrinhos, deve ser uma força pra quem estava lá e tem sua idéia, chegar em casa e começar a escrever ou desenhar, e trazer sua obra pronta no próximo ano. Quanto mais pessoas tiverem trabalhos prontos, mais forte e diversificado será o quadrinho cearense e nacional.
11 – Até pouco tempo sempre víamos os artistas brasileiros reclamando de distribuição, falta de espaço, oportunidades. Você acha que essa síndrome do coitadinho está acabando?
Acho que sim. Tem uma frase que adoro do livro do Richard Williams, um animador americano. Ele diz: “Comece com as coisas que você conhece e as coisas que você não conhece serão reveladas”. Existem muitas formas de você divulgar seus quadrinhos. Por exemplo: Existem sites americanos que fazem venda por demanda. É só você ter uma conta no paypal que você vende seus quadrinhos pro mundo e recebe seu pagamento em casa.
Aqui no Brasil, qualquer pessoa pode usar serviços como pague seguro pra vender o que quiser pela internet. Existem sites que divulgam de graça, como Bigorna.Net, ZineBrasil etc. Também existem sites de financiamento coletivo, que é uma onda que está chegando agora no Brasil, e é perfeito para artistas independentes que querem buscar formar de viabilizar suas obras. Recentemente surgiu o primeiro site de financiamento coletivo nacional, o catarse.me …Uma coisa que ainda tenho que ver é a questão da distribuição em comic shops. É a próxima coisa que vai ter que me aparecer como fazer… rs Ainda estou trabalhando nisso.
Falou JJ, Obrigado pela força cara.
Obrigado pelo papo, Diego. Boa sorte com a revista. Pra quem quer saber mais sobre o trabalho do Diego José e sobre a revista Oigo (inclusive como adquirir) os links abaixo dão as pistas:
Diego José fala sobre a revista no Papocast do Rapadura Digital
Diego José Site Oficial
Nenhum comentário:
Postar um comentário