sábado, 12 de março de 2011

João Belo Jr: O Empreendimento Quadrinho !

jbjenterview-web.jpg 
















João Belo Jr, Cartunista, Quadrinhista, Ilustrador, Roteirista e Tirista, é um dos responsáveis pelo ótimo thecomicscafe.com ao lado de Falex e Júlio César Belo. Por muito tempo foi responsável por organizar e manter o funcionamento da Oficina de Quadrinhos da UFC, num período em que se estabeleceu o conceito de "Dojo" dos quadrinhos. Administrador de empresas, entre outras coisas em sua identidade secreta, João Belo Jr é dono de um humor fino, irrepreensível que pode ser constatado na hilariantes tiras de Ariosto. O belo Graphic álbum Onde a Luz faz a curva e várias publicações independentes também constam no currículo do artista. Agora você confere um bate papo com João Belo Jr enquanto aguarda o lançamento de sua próxima empreitada o álbum de tiras do seu personagem Ariosto.

dqn2011_n.jpg
















1- Entre suas empreitadas recentes, João, está o DQN-CE (comemoração do Dia do Quadrinho Nacional no Ceará), que é um evento que surgiu despretensiosamente, mas cresceu bastante da versão de 2010 para 2011. A que você atribui isso?

Eu acho que os diversos grupos no Estado e mesmo os artistas que militam sozinhos nesta busca incessante pelo lugar ao sol dos quadrinhos, estão hoje mais próximos. Ano passado o evento se restringiu a Fortaleza;
nesse ano já se envolveu mesmo que muito timidamente o pessoal de outras cidades do Estado. A moçada tem se falado mais e, tanto a lista do Fórum de quadrinhos do Ceará (aqce) como os espaços criados pela nova Gibiteca de Fortaleza vêm contribuindo para isso. É claro que isso faz parte de um processo que se iniciou anos atrás, talvez no próprio ambiente da Oficina de Quadrinhos da UFC até culminar no atual momento, mas é inegável que a melhoria na comunicação aconteceu. Talvez estejamos sendo ajudados pelas facilidades que a tecnologia de hoje nos oferece, afinal, você faz um desenho e não precisa esperar a reunião do sábado pela manhã para mostrar, você posta na internet nos vários canais disponíveis. Mas ainda existem várias pessoas à margem desse mundo, que poderiam sertanto produtores como consumidores de quadrinhos. E isso significaria mais público para os futuros DQN´s.

Outro fator que considero essencial é o momento atual dos quadrinhos nacionais com o surgimento de várias editoras publicando autores nacionais, diversos títulos, editais apoiando obras de quadrinhos e os aproximando da literatura e conferindo a eles uma conotação mais séria, mais profissional, mais artística. Além disso tudo, os grupos de artistas estão mais maduros e dispostos a ajudar. Só precisam ser por aqui um pouco mais proativos, eu diria, e assertivos. Eu diria que o DQN surgiu não despretensiosamente, mas como
uma forma espontânea e ao mesmo tempo assertiva de mostrar que os quadrinhos podem ter o seu lugar e momento por aqui.

ariosto02.jpg















2- Como surgiu a idéia de comemorar o Dia do Quadrinho Nacional em Fortaleza?

Bem eu estava imaginando comemorar meu aniversário de uma forma diferente e...(brincadeira) Como eu falei a coisa surgiu de forma muito espontânea, mais como uma necessidade de mostrar uma ação assertiva, que tivesse algum resultado prático em relação aos quadrinhos, sabe. A lista do fórum ficava por vezes silenciosa demais quando não tratava de assuntos ?off topics?. Além do mais, seria interessante juntar todo
mundo no Dia do Quadrinho Nacional para sentar, desenhar e conversar amenidades. Seria uma forma de tirar as pessoas do mundo virtual da lista do fórum de quadrinhos, juntar com outros convidados e curiosos e
simplesmente permitir que essas pessoas se conhecessem melhor numa data emblemática e fazendo algo comum a todos que é desenhar, de forma muito natural, como quem reúne os amigos para um churrasco ou para assistir ou jogar futebol. Surgiu então o Gibiarte para materializar isso.

bann GIBIARTE 2011_web.jpg












3- Muito bom você menciopnar isso. Uma das atrações do evento é justamente o Gibiarte, explica pra gente o que é o Gibiarte.

O DQN surgiu com a idéia do Gibiarte. Então um maluco de nome JJ Marreiro comprou a idéia e, entusiasta dos quadrinhos como poucos, tratou de agregar novas atividades. Mas o Gibiarte foi o carro-chefe, digamos assim, do primeiro DQN. O Gibiarte é um encontro para celebrar o Dia do Quadrinho Nacional e para produção conjunta de quadrinhos, charges, ilustras, cartuns, tiras, o que for. Uma oportunidade que os quadrinistas têm de trocar idéias, estabelecer parcerias, ter esse contato com outros artistas de diferentes influências e estilos. O Gibiarte acontece normalmente durante toda a manhã e no final, é organizado um mural com as artes produzidas, além de cada participante sair ao final do evento com um
certificado.

4- Qual a sensação de ver artistas profissionais, amadores e pessoas que nunca desenharam elaborando artes para expor num mural conjunto?

O efeito prático que isso tem nas pessoas não é mensurável. Na edição de 2011 vi muitas crianças e pensei o quanto isso estava sendo bom para eles e para o quadrinho cearense. Imagino na minha infância se tivesse
tido a oportunidade de encontrar pessoas que fazem quadrinhos em diversos estágios, todos num mesmo espaço... Isso confere uma percepção de como o seu desenho está e para onde pode ir. Ajuda a aguçar o senso crítico do autor em relação ao seu próprio desenho, abre os olhos, ajuda a amadurecer. Na edição de 2010, passaram muitos artistas que fazem quadrinhos de forma amadora, profissional ou ensinam. Neste ano, vários desses artistas vieram, mas tive a impressão de um público novo, maior e diferente dos eventos anteriores, e como disse, formado por muitas crianças. Então essa é uma boa oportunidade para todos. O mural e o certificado servem para valorizar e premiar o esforço de quem produzir.

tira do Ariosto.jpg














5- Hoje vc edita o site The Comics Café com os parceiros Alexandre Vidal (Falex) e Julio César. São parceiros de longa data que voltaram a trabalhar juntos nesse projeto, mas quando vocês se conheceram? E como começaram a produzir juntos?

Caramba...aí estamos falando do início da década de 90.  Escuta só essa história. Acho que quase ninguém nunca soube, mas vou revelar em primeira mão ao Armagem. Tinha um maluco, maluco mesmo, mas gente boa, mais ou menos da nossa idade, que apareceu, saído não sei de onde, com um discurso muito político oriundo de grupos estudantis ou coisa parecida, arregimentando desenhistas de diversas partes da cidade. jbj004.jpgUm louco por quadrinhos que tinha milhares de personagens, fichas técnicas e universos na cabeça ou em rascunhos mal desenhados ou redigidos à esferográfica. Naquela época, nossas influências eram em 80%  quadrinhos americanos de heróis. E embarcamos todos em exaustivas reuniões aos sábados numa sala de um colégio próximo de minha casa, num arremedo de grupo ou de organização com atas e tudo o mais. Eu lembro que nem tinha entrado na faculdade ainda e um dos nossos objetivos era descobrir uma? tal? de Oficina de Quadrinhos da UFC e falar com um ?tal? de Geraldo Jesuino...hehehe...é verdade! E em algumas das reuniões o meu irmão Julio e eu encontrávamos o Falex, dá para acreditar? Mas aquele maluco ajudou a construir o nosso grupo e uma amizade e uma parceria que já  duram há mais de 15 anos. Caramba, tamo velho, hein! Bem, algum tempo depois, deixamos de nos reunir nas infindáveis e infrutíferas reuniões de sábado, noves fora, a boa vontade de todos. Depois de algum tempo eu entrei no curso de Administração da UFC, mas como o campus do Benfica era composto por várias faculdades, numa de minhas andanças descobri a Oficina de Quadrinhos da UFC que funcionava no curso de Comunicação Social. ?Era lá que era lá!? Inscrevi-me na última turma que oficialmente recebeu o certificado de um curso de hq, chamei o meu irmão (Nota do Editor: pra quem não sabe: Júlio César Belo) e depois de um tempo, chamamos o Falex. Lá criamos o zine Demolição para dar vazão à nossa produção já que a revista PIUM da Oficina tinha uma periodicidade naturalmente demorada entre uma edição e outra. O Demolição foi o nosso laboratório de fazer quadrinhos, mas essa é uma outra história.

tcc21fbe.jpg












6- O site The Comics Cafe tem passado por mudanças desde sua estréia o que motivou essas mudanças? Qual a reação do público a renovação do Site?

ARIOSTO-playboy1.jpgDepois de um lançamento maravilhoso e de um ano bem difícil onde não atualizamos o site na frequência ideal e onde achamos melhor até segurar algumas séries em função de compromissos profissionais dos três e até mesmo de projetos de quadrinhos que desenvolvemos e que tiveram de ser priorizados, resolvemos começar melhorando a estrutura visual do site que não nos agradava e mais parecida com um blog. Além disso, o modelo anterior dificultava a atualização e perdíamos às vezes muito tempo para colocar uma matéria nova no ar. Isso foi corrigido e o site ganhou amplitude visual e movimento.

O que nos motivou foi a necessidade de melhorar depois de um ano de The Comics Cafe, de ir corrigindo os rumos do projeto. Uma necessidade de mexer de dentro para fora. Por isso atualmente, realizamos reuniões constantes e vamos depurando os projetos e melhorando os formatos. Temos várias novidades que estão sendo preparadas para o ano de 2011 e 2012, mas por enquanto, vamos começar com os dois álbuns que foram contemplados em editais: Prêmio Literário
para Autores Cearenses (Prêmio Luiz Sá), da SECULT e o Programa Cultura da Gente, do Banco do Nordeste. O primeiro está na gráfica pronto para rodar e o outro sendo editado. O restante, por enquanto é segredo... hehehe. E o público tem ajudado com sugestões para o e-mail do grupo.


7- Voltando ao tema DQN qual a importância de comemorar o Dia do Quadrinho Nacional?

É importante porque foi o jornalista e caricaturista Ângelo Agostini  quem primeiro estruturou em meados de 1883, uma história em quadrinhos como a conhecemos hoje. Não interessa se os americanos não o reconhecem. Se nem Santos Dumont, que tinha prestígio e trânsito livre pela Europa, foi até hoje reconhecido por eles como o inventor do avião, imagina se eles iriam reconhecer um caricaturista ítalo-brasileiro de perfil abolicionista. Típico deles, mas achem eles o que acharem, As Aventuras  de Nhô Quim e Zé Caipora, são as primeiras HQ´s de que se tem registro e revolucionaram a narrativa gráfica conhecida até à época.

De lá para cá, no Brasil, os quadrinhos vêm lutando pelo seu espaço e ironicamente seguindo a influência americana, diferente dos nossos hermanos que seguiram a escola europeia, a meu ver muito mais rica e que
a eles causou muito mais benefícios, tendo em vista os nomes que frequentemente surgem no cenário de quadrinhos, principalmente com obras autorais. Mas muita gente continuou lutando através dos fanzines, grupos e de publicações isoladas e nesse intervalo surgiu uma vertente da escola brasileira, o quadrinho de Humor, com nomes que despontaram e se destacaram a partir da década de 80. Hoje, a realidade mudou consideravelmente, não ao acaso, mas como resultado do esforço e insistência de anos.  A estabilização da economia brasileira permitiu que surgissem várias editoras especializadas em quadrinhos que não só trouxeram material de fora de qualidade que acaba servindo de influência, mas têm apostado em material nacional e autoral.

E os artistas nunca tiveram tanto destaque e valorização. É por isso que considero importante comemorarmos o Dia do Quadrinho Nacional.

dqn2011_07_500.jpg




















8- Num mercado onde o produto nacional assume às vezes o papel de luxo e às vezes o papel de lixo, você acha que o Dia do Quadrinho Nacional traz uma reflexão natural?

Eu acho que a função do mercado é depurar tudo o que existe de publicação e ao fazer suas opções por certos gêneros, estilos, qualidade de roteiro e de desenho e até por autores e por títulos, acaba ajudando
esses autores e editores a encontrar o melhor caminho. Só não pode acontecer é de o mercado estabelecer que somente uma ?casta? formada por determinados autores é que deve ser sempre publicada e que só o material deles é que é bom. O que deve fazer é dizer: ?olha, nós estamos num nível de percepção e de exigência e sabemos dizer o que é bom pra nós?.

Mas temos um problema cultural aqui, pois de uma forma geral, na média, o brasileiro lê pouco e as nossas influências de quadrinhos são pouco diversificadas (praticamente super-heróis e nos últimos anos o mangá
japonês). E o dia do Quadrinho Nacional ajuda a pensar no assunto, a voltar a direção para o nosso quadrinho e para os novos nomes, os novos canais, os novos produtos. Se o mercado refletir ele selecionará melhor. Acho que todos devem ter o seu lugar ao sol, mas se o mercado for exigente e não tendencioso ou protecionista, acho que os quadrinhos é que ganham com isso, pois significa que estariam sendo vistos e tratados com bem mais respeito.


9- Alguns estados possuem os Festivais de Humor e Quadrinhos e o Rio de Janeiro ganhou uma Comic Con. O que seria necessário para fazer eventos maiores ligados a quadrinhos no estado do Ceará?

jbj002.jpgVou falar o que disse outro dia num e-mail para o grupo: Para realizar um evento do porte de uma COMICCON é necessário investimento, planejamento e pessoas criativas, engajadas e comprometidas para compensar qualquer deficiência que os dois primeiros itens possam ter, porque na prática as coisas andam num ritmo próprio.

Para conseguir o apoio da iniciativa privada ou de verbas públicas voltadas para atividades culturais, precisamos ter o mercado mapeado, para mostrar que existe demanda para um evento desse porte. E para realizar um evento dessa magnitude, precisamos desenvolver um ?know how?
próprio, e isso pode acontecer gradativamente com a realização de eventos de menor porte como o DQN ou aprender com outros eventos como o Panorama Nona Arte, o MAIS HQ que acontece em Sobral ou as Reuniões do Baião Ilustrado, além de oficinas, lançamentos, exposições, quem sabe um
espaço na Bienal do Livro, para irmos colocando o quadrinho em evidência na cidade, agitando a cena local, divulgando artistas, formando parcerias e conseguindo apoio até que cheguemos ao ponto de realizar uma Convenção. Paralelamente cada artista deve ir produzindo seu material, focando em algo que possa ser classificado como produto, como material publicável, pois, mercado à parte, tudo numa convenção de quadrinhos gira em torno de publicações e artistas de qualidade. Sem essas duas bases, podem esquecer.


João Belo Jr obrigado pela disponibilidade e pela presteza em responder a nossa entrevista. A turma que quiser conhecer mais o trabalho do Jojão Belo Jr pode clicar  na xícara ali embaixo e visitar o café dos quadrinhos.


Eu é que agradeço o espaço no Armagem e o The Comics Cafe está aberto e disposto a colaborar sempre que possível com os Quadrinhos. Um Abraço.

TCCafe.jpg



Nenhum comentário:

Postar um comentário