segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Um morador de rua atemporal presente em grandes fatos da história.


O morador de rua Adroaldo não tem superpoderes, mas foi concebido de forma atemporal pelo escritor, roteirista e cineasta Rafael Spaca e pelo ilustrador Denison Lemos. Assim, ele pode estar presente em acontecimentos históricos na cidade de São Paulo em qualquer tempo ou época, como se fosse um Forrest Gump tupiniquim. Na própria descrição em sua página no Facebook é mencionada essa sua faceta: “Adroaldo é atemporal e por isso tem todo o tempo para mal-viver e contar a cidade que o adotou.”
 Por isso nós podemos encontra-lo, por exemplo, presente no incêndio do Edifício Joelma no ano de 1974, ou em 1945 nos comícios de Luis Carlos Prestes e no fim da ditadura de Getúlio. Ou ainda transitando pelas escadarias do Teatro Municipal em 1922 durante os movimentos modernistas e por aí vai. E sempre com a mesma idade e aparência.   

Nosso personagem aparenta ter uns 50 anos de idade, mas na realidade o tempo para ele não conta e Adroaldo nem mesmo sabe quando nasceu. Ele chegou em São Paulo  com uma mão na frente e outra atrás, da mesma forma que tantos outros migrantes nordestinos e adotou a cidade como sua.
Apesar de ser um simples morador de rua e símbolo do homem comum, que passa por todas as mazelas do ser humano, nosso herói tem um gosto apurado pela cultura e pela arte. Gosta de frequentar museus, teatros, bibliotecas, mostrando-se sempre bem informado com uma inteligência e refinamentos acima da média. E como se não bastasse, age como um verdadeiro gentleman.  Características essas que muitas vezes surpreendem seus interlocutores que esperam encontrar apenas um sem teto ignorante e sem educação.


A inteligência inclusive é a arma principal de Adroaldo. Em todas as ocasiões ele prova que com perspicácia é possível se sair bem de todas as situações, mesmo que tudo esteja contra ele. Contudo, a forma como ele utiliza sua inteligência não é imoral ou de maneira maligna, desonesta.  Outras características fortes nele são sua honestidade, ética e lealdade. Para o observador mais atento das histórias, percebe-se que independente da situação do protagonista, ferrado, sem teto, sem grana em um ambiente hostil e decadente, o autor quer passar uma mensagem positiva de que com inteligência, criatividade, honestidade, ética e educação sempre podemos vencer. 



Devido a estas características, em pouco tempo Adroaldo tornou-se conhecido. Hoje ele tem entre seus fãs personalidades como o escritor, roteirista e ficcionista o mestre Rubens Francisco Lucchetti, o apresentador do programa da TV UOL Quadrinhos para Quadrados e Redondos  Kendi Sakamoto, também considerado um dos maiores especialistas em HQs do Brasil, as atrizes Zélia Diniz e Juliana Fagundes a roteirista de HQs Lúcia Nobrega, o jornalista e editor do site Universo HQ, Marcus Ramone, o cartunista César Cavelagna, os quadrinhistas Bira Dantas e João Spacca dentre muitos outros famosos que fizeram questão de dar seus depoimentos sobre o personagem para a página dele no Facebook.  

João Spacca, primo do Rafael Spaca (apesar do "c" à mais no nome do João) já chegou inclusive a desenhar algumas tiras de Adroaldo como podemos ver abaixo. 






Adroaldo  já tem até uma homenagem em forma de um boneco esculpido pelo famoso artista plástico baiano Zé Andrade, mas que infelizmente ainda não há a intenção de comercializar.

E também foi homenageado em forma de grafite pelo artista plástico de São Carlos, Alfredo Maffei, que retrata retrata moradores de rua em casas abandonadas.

                           Verso da designer goiana  Lini Spindola para Adroaldo

O Laboratório Espacial fez uma entrevista exclusiva com os autores Rafael Spaca e  Denison Lemos onde eles falam sobre suas carreiras, como se conheceram e sobre o Adroaldo e planos para o futuro do personagem. 
E agora com vocês Rafael Spaca , Denison Lemos e Adroaldo.


      Olá Rafael e Denison, sejam bem-vindos ao Laboratório Espacial e muito obrigado pela presença de vocês aqui! Antes de mais nada me digam onde nasceram, moram, como se conheceram e resolveram trabalhar juntos.

Spaca Eu nasci em São Paulo e continuo morando na capital. Conheci o Denison Lemos no Sesc Santo André. Eu trabalhava no setor da programação cultural da Unidade e o Denison na área de Comunicação. Estas duas áreas mantinham intenso diálogo porque pensávamos juntos a estratégia para atrair público para as nossas atividades. Nós nos entendíamos muito bem neste trabalho e desde essa época formamos uma amizade muito grande.

Denison Nasci na capital de SP mesmo mas moro em São Caetano do Sul desde criança. Como o Spaca disse, eu o conheci em 2007 quando trabalhávamos no SESC Santo André, Spaca na programação e eu na Comunicação. Ele trazia os eventos e atividades e eu era responsável pela divulgação junto ao público. Naquela época o Spaca já tinha muitas ideias e eu sempre tive vontade de participar de projetos alternativos e autorais fora do esquema chato do mercado, algo que fosse livre e não seguisse tantas regras.

1         Interessante, de qualquer forma vocês já estavam interligados por trabalhos anteriores.  Agora me falem um pouco sobre o trabalho de vocês. Como iniciaram suas carreiras e quais dificuldades encontraram no início?

Spaca Sou radialista (me formei na Universidade Metodista de São Paulo) e depois fiz pós-graduação em Teorias e Práticas da Comunicação (na Cásper Líbero). A Comunicação faz parte da minha vida e todos os lugares que trabalhei teve alguma relação com a minha formação (Rádio Cultura FM, SBT, SESC, O2 Filmes e agora com este projeto do Adroaldo e outros trabalhos que realizo como escritor). Essa é a vida que escolhi seguir, e acredito que este é o meu caminho: comunicar e lidar com público. Acredito na cultura e educação como caminho para a transformação social.

Denison Sou formado em Publicidade e Propaganda, trabalhei bastante com produção gráfica mas quadrinhos pra mim é novidade. Sempre fui um apreciador e até fiz um curso com o professor Gau Ferreira que ensinava a usar nanquim e outras técnicas mas sempre ficou mais no campo da curiosidade. Recentemente no lançamento do livro A Bruxa do Chocolate (de Rafael Spaca), o Spaca me apresentou o release do Adroaldo, o personagem estava completo e só precisava de alguém pra desenhar as histórias. Vontade eu sempre tive mas nunca me apareceu uma boa história que valesse a pena produzir. Eu tenho, como todo desenhista, super heróis e outros personagens inventados mas já existem tantos por aí, pra encarar um projeto de criação desses tinha que ser uma coisa bem original e o personagem me cativou por isso. Se você reparar ele é até feio, eu sempre desenhei caras fortões, mulheres gostosonas, desenhar o Adroaldo no começo foi um desafio, agora eu acho ele até simpático. Tem vários desenhistas muito bons que não são conhecidos. Você precisa ter algum material pra mostrar e procurar conhecer o maior número possível de pessoas da sua área, pedir muito conselho e seguir os mestres. O estilo de cada um é o que menos importa, pra fazer quadrinho você não precisa nem saber desenhar bem mas se tiver uma boa história pra contar já pode começar.


Lançamento do livo infantil A Bruxa do Chocolate quando
 Spaca (camisa xadrez à direita) apresentou o release do Adroaldo
 a Denison (camisa cinza a esquerda)


1        Agora sobre o Adroaldo, é muito interessante essa premissa de que ele é atemporal e pode estar em qualquer momento da história! Isso é uma forma de fazer uma crítica ao fato ocorrido utilizando a filosofia do personagem sem se limitar a época atual. Como surgiu essa ideia? 

Denison O Spaca pode responder melhor essa porque a criação conceitual é dele mas a vantagem que eu vejo é a grande margem que isso dá pra criação.

Spaca É verdade Denison. Bom, essa ideia surgiu em 2004. Adroaldo é tudo aquilo que meus olhos viram. Tinha vivido grandes experiências andando pelo centro da cidade de São Paulo, especialmente quando fazia externas pela Rádio Cultura FM  na gravação de concertos e óperas na Sala São Paulo e Teatro Municipal. Essas gravações eram sempre à noite, então imagine... se a cidade é maluca durando o dia, de noite ela enlouquece. Então resolvi colocar algumas experiências que vi ou vivi no papel. Essas histórias que ele vive, tem alguém vivendo hoje, alguém que viveu ontem e alguém que vai viver amanhã. Parece ficção, mas não é.


Adroaldo encontra Pelé  na época do Santos,
 em suas andanças pela história.


        Legal! Então na realidade o Adroaldo é meio auto biográfico devido as experiências vividas por você. E quanto a personalidade do Adroaldo? Existe alguém que vocês conheceram que tinha essas características como por exemplo, mesmo sendo um morador de rua, possuía esse gosto pela cultura e hábitos como a leitura?

Spaca : Um amigo, já falecido, foi a minha inspiração. Ele era um cara que ninguém acreditava, porque o julgavam pela aparência, mas quando o conheciam, se encantavam pela personalidade dele, pelo carisma e principalmente, pela inteligência. 

Denison Certamente existem muitos como o Adroaldo, eu já encontrei alguns pela vida. Um erro comum das pessoas é associar falta de recursos a falta de interesse por cultura, o povo não quer só comida, também quer diversão e arte.

    (Risos) É verdade Denison, os Titãs já diziam isso não! E quais as influências na obra de vocês? Quem são os artistas que os inspiraram e que vocês têm como referência?

Spaca : Tudo e todos! Leio de tudo, ouço de tudo, vejo de tudo. Do popular ao erudito. Do Kitsch ao cult. Minha formação é diversa e plural.

Denison Meu estilo de traço é cartum, tem jeito de desenho animado. No Brasil não tem como não ser influenciado por Mauricio de Sousa e Ziraldo no traço mas na liberdade de humor (com certo cuidado) e na loucura quem me influência muito até hoje é Laerte, Adão, Angeli, o saudoso Glauco, essa turma boa, classuda, doidona que não tinha e não tem medo de nada nem de ninguém. E claro, muito desenho animado Cartoon Network, Disney, Marvel, DC, anime, manga... Sou um radar, acho que nunca vou ter um traço definido.

1       Spaca, você já foi envolvido em inúmeros projetos culturais através do  SESC onde tinha a função de Animador-Sociocultural com a responsabilidade propor, idealizar e criar programações culturais. De alguma forma as histórias do Adroaldo refletem isso ao explorar diversas facetas da história de São Paulo. Esse é mesmo um dos objetivos das tiras ou foi de forma inconsciente?

Spaca  O Adroaldo surgiu em 2004, todas as histórias foram escritas antes do meu período de trabalho no Sesc, que foi de 2005 a 2013. A única ligação que o Sesc criou neste projeto foi o laço de amizade que me oportunizou com o Denison Lemos. Essas histórias estavam adormecidas há mais de dez anos e em 2016, graças ao lançamento do meu livro infantil “A Bruxa do Chocolate”, num verdadeiro golpe de sorte, numa conversa informal, Denison e eu decidimos tirar o Adroaldo da gaveta!


Denison Essa é específica pro Spaca mas posso dizer que pra mim o personagem caiu como uma luva. Fui trabalhar no SESC por causa do nome SOCIAL. Valeu porque foi um lugar onde eu aprendi muito, mas a  vontade de fazer algo de bom pro mundo é algo que me acompanha sempre, não consigo fazer nada que não represente algum benefício ao planeta, animais, crianças, aos fracos e oprimidos. Sou meio idealista nessa parte, assim bem como o Adroaldo.

1         Você também é envolvido com o cinema desde a época do SESC quando produzia festivais. Além do que já trabalhou na produtora O2 Filmes como assistente de produção e lançou um livro sobre o assunto: O Cinema dos Trapalhões por quem fez e por quem viu, livro esse que inclusive se tornou uma série produzida pela TV Cidade. Sem falar que recentemente produziu e dirigiu o curta-metragem R.F.Lucchetti – A Multiplicidade da Linguagem.  
     
      Além do mais o Denison também tem experiência com animação stop motion feita com desenho e massinha de modelar. Com toda essa bagagem no currículo, será que o Adroaldo teria a chance de um filme, uma série de TV live action, ou quem sabe uma animação mesmo?

Spaca  Esse é o nosso sonho. Primeiro iremos concluir todas as histórias (são mais de 50), depois transformaremos essas histórias em uma publicação editorial e em seguida, partiremos para a animação. Sonhamos alto, pensamos grande! Sem pressa, mas sem pausa!



Denison Eu sempre fui um curioso, além de gostar de ver eu gostava de saber como a coisa era feita, quando vejo o making off dos filmes da Pixar e da Disney, eu fico louco. Vou ter que viver muito  pra fazer tudo o que eu tenho vontade nesse meio de ilustração, quadrinhos... E o personagem pede.

1    Puxa, 50 histórias! Será legal termos uma edição física do Adroaldo, conte comigo para divulgação. Quanto a animação, então podemos sonhar! Mudando de assunto, vários artistas e personalidades se encantaram com o Adroaldo deixando até seu depoimento sobre o personagem. Vocês esperavam toda essa repercussão e sucesso do personagem entre algumas celebridades?

Spaca : Estamos recebendo apoios e esses apoios nos dão ânimo e coragem para seguir em frente. É incrível receber esses depoimentos de verdadeiros mestres das artes. Já fomos capa de jornal e agora estamos conversando com você. Sinceramente não imaginávamos isso, mas a força do Adroaldo esta causando este estardalhaço!

Denison É tudo muito estimulante, só dá vontade de desenhar mais. A premissa do personagem é muito rica, eu só não esperava tantos elogios aos desenhos e tamanha aceitação tão rápido, o Adroaldo ainda está sendo apresentado gradativamente mas parece que já encontrou seu caminho .

1       Após esse sucesso com o Adroaldo, vocês pretendem criar algum outro personagem em conjunto? Se sim que tipo de universo ele habitaria?

Spaca Adroaldo é um projeto de longo prazo, acredito que levaremos ainda mais um ano e meio para concluir as primeiras histórias, depois terá a publicação editorial e, tomara, a animação. Temos nossos interesses pessoais e profissionais além do Adroaldo. Não vivemos dele. Tenho outras ambições profissionais. Mas certamente vou conseguir conciliar tudo isso com o Adroaldo. Agora, se ele virar uma série animada, aí sim todo esse cenário que elaborei muda de figura.

Denison Ideias não faltam mas o foco agora é o Adroaldo, até porque ele já está exigindo bastante de nós e dentro das histórias dele aparecem personagens tão malucos e admiráveis que dá vontade de trabalhar essa turma, se aprofundar nos seus conflitos, expandindo mais o universo do Adroaldo do que criar um novo. Tem personagem que é criado pra fazer uma participação pequena mas fica tão bom que acaba sendo aproveitado em outras histórias.

         Se houver mais alguma coisa que vocês gostariam de falar sobre o Adroaldo, fiquem à vontade para fazê-lo.

Spaca A grande lição do Adroaldo é na questão do julgamento. Não se deve julgar as pessoas pela aparência, pelo carro que dirige, pela roupa que veste, pela classe social, pelo jeito que ela é, pelo país que nasceu, pela fé. O mundo precisa cada vez mais de pontes e menos de muros. O Adroaldo mostra que é possível viver sem barreiras, ele transita em todas as áreas com desenvoltura, respeita e quer ser respeitado. É assim que tem que ser.

Denison Eu costumo usar o termo “pessoa em situação de rua” porque a gente nunca sabe como é a vida de quem está ali. Muitos tem casa, família mas estão na rua naquele momento por algum motivo pessoal que não nos cabe julgar. Pode ser tanta coisa, depressão, vícios ou até mesmo opção, pra muitos apesar da dificuldade e dos perigos ‘as vezes é melhor estar na rua (não viver, mas estar). É difícil entender mas é preciso respeitar e procurar aprender alguma coisa com eles. Estão sempre por aí e você se pergunta porquê ? Mas pouca gente quer saber se eles comeram hoje, como cuidam de sua saúde ou onde vão dormir. Usamos o humor pra expor a realidade do pensamento humano que pode ser justo, ético e responsável para com o seu semelhante como age o Adroaldo, mas tratamos a condição da pessoa em situação de rua com muito respeito e naturalidade, afinal somos todos humanos e a única coisa que nos difere é o momento de cada um, ninguém sabe o que alguém passou pra chegar aonde está nem o que vai acontecer amanhã.

1        E para finalizar, a tradicional pergunta: qual o recado que você dá para seus fãs brasileiros?

      Denison Muito obrigado a todos que já conhecem e gostam, espero que mais pessoas curtam, que possam se divertir e pensar com o Adroaldo. Em qualquer situação na vida, se a pessoa conseguir ver a coisa com uma certa dose de humor e tirar disso uma reflexão, pode ser que não resolva o problema mas vai ficar mais leve de encarar.  

Spaca : O mundo não gira, ele capota

 Mais uma vez, muito obrigado pela entrevista exclusiva para o Laboratório Espacial. Estaremos sempre a disposição para quando vocês precisarem. Desejamos um SUPER sucesso para vocês! Vida longa ao Adroaldo! Bom... para quem  pode existir em qualquer época da história creio que isso ele já tem! (risos)

Para conhecer a página do Adroaldo no Facebook clique aqui













3%: A Desigualdade pelo olhar da Ficção



A série 3% criada por Pedro Aguilera, a primeira série brasileira produzida para a Netflix — e a primeira série brasileira de Ficção Científica, narra o esforço de um grupo de jovens tentando suplantar uma série de desafios físicos e psicológicos para serem aceitos entre um seleto grupo escolhido para sair de uma vida de condições desumanas e ingressar num presumível paraíso terrestre.

A trama se passa num futuro distópico, onde um sistema opressor comanda e organiza a vida social usando e abusando de força e manipulação. Ao longo dos episódios o cenário vai ganhando cada vez mais dimensão enquanto seus personagens começam a se mostrar mais e mais profundos. Personagens maus e bons, todos possuem muitas camadas e cada episódio contem reviravoltas, revelações, surpresas, nos moldes do que melhor se tem visto em termos de séries.

3% é uma série bem escrita, envolvente e mostra que brasileiro não sabe fazer apenas novela. Mesmo assim, com uma produção bem cuidada, um elenco de excelentes atores, ainda é possível ver gente torcendo o nariz simplesmente porque a série é brasileira. Mas esse talvez seja um dos grandes méritos criativos de 3%, enquanto finalmente trocamos os Jacks, Johns e Jullies por Tiagos, Anas e Fernandos também podemos ver o modo brasileiro de enxergar a ficção, dentro de uma história universal, mas com aspectos e elementos da sociedade e da cultura brasileira. Existem fórmulas dramáticas, técnicas, métodos e regras?! Tudo bem, mas com um olhar brasileiro a coisa ganha sim outros ares, outros valores e outras dimensões.


É difícil não tecer paralelos com a realidade quando a trama da série aborda a trajetória e o sofrimento de uma massa desvalida e sem formação conduzida por um grupinho de abonados que se alternam no poder brincando de democracia. A Ficção Científica tem esse poder de crítica metafórica, esse poder de provocar reflexões e de instigar o "e se". 

SERVIÇO:
3%
Série de Ficção Científica, Thriller, Drama
Criação: Pedro Aguilera
Produção Executiva: César Charlone e Tiago Mello
Elenco: Bianca Comparato, João Miguel, Michel Gomes, Vaneza Oliveira, Viviane Porto, Rodolfo Valente, Rafael Lozano
Onde encontrar: Netflix (serviço de streaming)
Estreia: Novembro de 2016













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sábado, 7 de janeiro de 2017

MULHER-MARAVILHA FORA DA ONU: O que pensam as Mulheres-Maravilha do Lab. Esp.?


Nesse ano em que completa 75 anos, a Mulher-Maravilha havia sido escolhida para ser a embaixadora da ONU por ser o símbolo da paz, justiça e igualdade, bem como para promover os direitos das mulheres. A nomeação foi no dia 21 de outubro na sede da ONU em Nova York nos Estados Unidos. A cerimônia contou com as presenças das atrizes Gal Gadot que atualmente interpreta a personagem nos cinemas e de Lynda Carter que encarnou a heroína na série televisiva nos anos 1970. 


 
No entanto, na ocasião houve uma série de protestos pelo fato de uma personagem de ficção ser escolhida ao invés de uma mulher real. Um portal da internet chegou a ser criado por manifestantes dizendo que a Mulher-Maravilha é "a encarnação da garota do calendário – branca, de seios generosos e medidas improváveis – e ainda se veste com a bandeira dos Estados Unidos". 

A partir daí gerou-se uma discussão entre os que eram a favor e os que eram contra. Os favoráveis, alegavam que os protestantes não conheciam a personagem e suas verdadeiras características.  Que a heroína havia sido criada justamente para representar a força da mulher e os ideais de justiça, paz e igualdade. E que independente de sua aparência ou nacionalidade ela defendia esses ideais universalmente.


Após toda essa discussão foi criada uma petição com mais de 45 mil assinaturas em que os protestantes diziam “Embora os criadores originais possam ter pretendido que a Mulher-Maravilha representasse uma mulher guerreira, forte e independente, com uma mensagem feminista, a realidade é que a iteração atual da personagem é a de uma mulher branca de proporções impossíveis

 
Em vista disso, dois meses depois de ter sido nomeada como sua embaixadora, a ONU voltou atrás e retirou o título da Amazona.

Essa atitude da ONU repercutiu ainda mais e gerou protestos das próprias atrizes Lynda Carter e Gal Gadot que eram representantes da personagem na ONU.

Segundo  Aladim Miguel, pesquisador e especialista em  Lynda Carter, a atriz deu a seguinte declaração para o  New York Times:
"O que acho interessante é que eles não visualizam o quadro completo. Concordo que a questão da igualdade de gênero é muito maior do que qualquer personagem e entendo que um personagem dos quadrinhos não deva representar algo tão importante. Concordo com isso. O que discordo é essa ideia sobre a Mulher-Maravilha. Ela é uma defensora icônica, ela é arquetípica. É a coisa mais sexista do mundo dizer que tudo o que você vê quando pensa na Mulher-Maravilha é um objeto sexual" 

A atriz, também rebateu a insinuação contra o seu figurino sensual na série comparando-o ao do Superman: 
"Ele tem um traje colante que mostra cada ondulação, não? Ele não tem uma grande protuberância em sua virilha? “Então por que não reclamam disso?” 




Ainda segundo Aladim, ela também referiu-se a origem da Mulher Maravilha:
 “E quem disse que a Mulher-Maravilha é branca? Sou metade mexicana. Gal Gadot é israelense. A personagem é uma princesa amazona, não americana. Eles estão tentando colocá-la em uma caixa e ela não está em uma caixa".

Gadot demonstrou perplexidade em suas afirmações:
Existem tantas coisas horríveis acontecendo no mundo e vocês estão protestando contra isso? É sério? Quando as pessoas dizem que a Mulher-Maravilha é sexualizada demais e que ela precisa ter um uniforme diferente, eu realmente não entendo. Já vi muitos dizendo que se ela é forte e inteligente, ela não pode ser sexy. Isso não é justo. Por que ela não pode ter todas essas qualidades ao mesmo tempo?


No entanto, algo que poucos sabem, foi a real intenção do psicólogo americano William Moulton Marston ao criar a Mulher-Maravilha. Conforme explica a pesquisadora de Histórias em Quadrinho Dani Marino no site Minas Nerds, seu objetivo não era demonstrar a igualdade dos gêneros, mas mostrar a superioridade da mulher sobre o homem. Marston, também foi o criador do polígrafo, o detector de mentiras, e concluiu através de suas experiências que as mulheres mentiam menos do que os homens. Justamente por isso convenceu-se que elas eram moralmente superiores e mais capazes de lutar, como zelar pelo bem comum. Mais um motivo que os protestantes desconhecem.

Mas e o que acham as Mulheres-Maravilha do Laboratório Espacial? Em um artigo anterior elas já haviam opinado  aqui sobre a importância da Mulher-Maravilha em suas vidas. Agora você vai saber a opinião feminina de garotas que também curtem quadrinhos e até trabalham com isso.

E com vocês nossas Powergirls(Os depoimentos a seguir estão em ordem alfabética)

BÁRBARA ELLEN
São inúmeras as figuras femininas fortes presentes na mídia atualmente, Supergirl nas séries, Lara Croft nos games, ou a Mulher Maravilha nos cinemas, todas inspirando gerações, e Diana Prince... Ah essa realmente tem o poder e a presença necessária para ocupar um cargo de tamanha responsabilidade. Realmente é uma pena que eles só enxerguem uma "mulher branca de proporções impossíveis".
 Bárbara Ellen: "Técnica em Enfermagem, curte mangás e é desenhista nas horas vagas"


DANI MARINO
Minha relação com a Mulher-Maravilha é tão curiosa quanto a minha relação com as HQs: até há pouco tempo, eu realmente não ligava muito para ela, embora o carinho exista desde a infância, quando tive minha primeira e mais duradoura referência de Diana, protagonizada por Lynda Carter na série de TV.
Eu tinha uns 5 anos quando a série era exibida na sequência de Batman e a Poderosa Ísis e não fazia ideia que os personagens vinham das HQs até conhecer a coleção intocável do meu pai. Mas entre Tio Patinhas e Homem-Aranha, não havia história da princesa amazona.
Nos desenhos animados, eu conheci os Superamigos, mas na mesma época, a Mulher-Aranha ganhou meu coração como heroína favorita. E aí, mais tarde, vieram os X-Men e a Mulher-Maravilha ficou esquecida em minha memória até recentemente. Então, ela nunca foi minha referência modelo a seguir. Meus modelos eram reais, minha mãe, minhas professoras, a professora que se aventurou na Challenge como astronauta, Joana D’Arc...
Até que em 2012, quando escolhi Sandman como tema do TCC na faculdade de Letras, eu dei início à minha jornada no universo acadêmico de HQ, onde eu conheceria uma série de pesquisadores que, entre diversos temas, também pesquisavam a Mulher-Maravilha.
Ao longo desses últimos 4 anos, tive a oportunidade de conhecer muitos aspectos sobre a história de Diana Prince que geralmente passam despercebidos pelos leitores e, a partir do convite da Gabriela Franco (Minas Nerds) para integrar uma mesa sobre a evolução da Mulher-Maravilha em seus 75 anos de existência, fatos sobre ela não pararam mais de chegar ao meu conhecimento e a única coisa que eu pude fazer foi literalmente me render a seus encantos.
Então, depois de ler suas primeiras histórias e outras mais significativas, assistir às animações e ler os livros teóricos sobre a heroína mais icônica das HQ, não me restam dúvidas que muito além de uma mulher branca e de seios fartos sumariamente vestida, como alegam os signatários da petição contra sua nomeação como embaixadora honorária da ONU, ela simboliza o poder feminino, a independência e a luta pela justiça, valores universais compartilhados por pessoas do mundo todo. Portanto, é uma grande perda para a luta pela igualdade de gêneros que ela tenha sido dispensada de seu posto                          Dani Marino é mestranda em Comunicação na ECA-USP e pesquisadora de Histórias em Quadrinhos. Integrante da Associação de Pesquisadores em Arte Sequencial (ASPAS) e do Observatório de Histórias em Quadrinhos da USP, Dani também colabora com os sites Minas Nerds, Quadro-a-Quadro e Iluminerds. Secretamente é a Mulher-Maravilha, mas esse é um segredo guardado a sete chaves.

Para conhecer seus trabalhos acesse:
DÉBORA CARITÁ
Como eu sempre digo, as próprias mulheres ( a maioria) interpreta de forma errada a Mulher-Maravilha: apenas por sua aparência, e não sua mensagem. A minha opinião é que, SE A MENSAGEM MITOLÓGICA DA MULHER MARAVILHA FOR MANTIDA, ELA PODE ASSUMIR QUALQUER APARÊNCIA FEMININA: LOIRA, NEGRA E QUALQUER PROPORÇÃO, desde que sua aparência não seja tema de suas historias, e nem modifique sua mensagem original.
Débora Caritá: Formada em Letras mas sua vocação mais predominante foi o desenho e a ilustração. Já fez trabalhos como colorista para editoras como a Marvel (Hulk, X-23) e Dynamite onde trabalhou sob a direção de Alex Ross na série Superpowers. Atuou durante dois anos como desenhista na revista mensal Dejah Thoris (Dynamite). Atualmente faz ilustrações publicitarias para animatics, desenhos de projetos de HQs, faz estudos de modelagem 3D.
Para conhecer o seu trabalho acesse:
Para contatar Débora acesse seu Facebook: Débora Caritá Facebook


HELENA LOPES
Falar sobre estética, beleza, padrões e como o mundo aceita esses conceitos é muito complexo, principalmente quando relacionado a algo tão explosivo como uma relação à ONU. A razão de ter Mulher-Maravilha como embaixadora de uma causa que precisa de força para poder ser melhor vista era clara, e a revogação dessa posição faz com que esse impulso fique cada vez mais fraco. Ao meu ver, independente de proporções ou não, mulheres e homens têm que erguer o pulso e lutar pelo o que querem, lutar pelo simples direito a igualdade. E agora, mesmo não possuindo uma grande força como o símbolo da mulher maravilhosa, a luta nunca deve terminar. Símbolos de feminismo nascem todos os dias e depende de nós utilizarmo-nos deles para engrandecer ainda mais a causa e nunca deixa-la morrer.
Helena Lopes: Escritora autora de três romances, formada em Marketing, cursando Arquitetura e Urbanismo, ex-youtuber e nerd “multifuncional”. Durante a noite costuma ser vista no alto dos prédios perseguindo um certo Homem Morcego vestida de Mulher Gato.



JAQUELINE ABRÃO (JACK ABRÃO)
Não é a primeira vez que uma personagem de ficção é nomeada embaixadora honorária das Nações Unidas... A fada Sininho já tratou de questões ecológicas, o Winnie the Pooh já olhou pela amizade e o Angry Birds já esteve associado às questões climáticas. E a proposta de colocar a Mulher-Maravilha como representante dessa campanha a meu ver era uma ótima ideia, pois essa personagem surgiu em uma época em que os personagens femininos eram papel secundário na cena dos quadrinhos e filmes,e é um ícone que simboliza a paz , igualdade e justiça. Porém segundo algumas pesquisas que eu puder ler, 100 manifestantes, segundo a CBS News, ergueram cartazes com frases como “Não sou uma mascote” ou “Mulheres verdadeiras merecem uma embaixadora verdadeira”. Na minha opinião eu acredito que o público que está fazendo as manifestações, não compreenderam de fato a proposta da campanha que era atrair a atenção principalmente dos jovens para luta contra a discriminação de gênero... Eles tem direito em exigir um representante real para erguer-se perante os 192 estados e deixar a sua opinião e imagem real, porém isso não é motivo para ONU encerrar a campanha com a personagem. Essa revolta toda na minha opinião é muito exagerada.
Jaqueline Abrão: 26 anos, Pedagoga,Maquiadora Profissional, Cosplay, Youtuber no canal Jcatchannel e Proprietária da empresa Its'ME - Moda Geek.


KARINE FERREIRA
Então, penso a respeito de alguns pontos: 

1- Não entendo o motivo pelo qual "revoltou" tanto algumas pessoas o fato de a personagem ter sido escolhida. Qual é o problema? "aahh mas é 'sexualizada'...". Não vejo por esse lado, mas sim pela história da heroína. 

2- O fato da ONU desistir da escolha também não é compreensível. Nem eles mesmos argumentaram sobre isso, apenas anunciaram a desistência e ponto. Isso me faz refletir em como algumas pessoas ainda pensam de forma conservadora. Será que algum dia (em um futuro distante) mudarão? Não sei porque, mas o caso me lembrou do cartaz do filme X-Men que deu tanto o que falar (da Mistica sendo enforcada por Apocalipse). Em fim, esse é outro debate longo...

Karine Ferreira: 27 anos, é jornalista e pós graduada em mídias digitais. Trabalha com redes sociais e sempre nos tempos livres costuma ler e se inteirar nos universos geek e tecnológico.





PAMELA HELLEN
Gosto da Mulher Maravilha pelo o que ela representa: Mulher forte, independente e cheia de atitude! Muitas outras heroínas da DC demonstram a mesma coisa que nós fãs temos por essa heroína... Admiração! Ela é branca sim e se fosse negra seria do mesmo jeito. Esse corpo forte é difícil de alcançar, mas para que eu iria querer isso? Estou bem assim. Se você fica prestando atenção em formas de corpo e cor de pele, por favor... Quem tem problema é você. Eu sou uma Mulher Maravilha com muito orgulho! 
Pamela Hellen: 22 anos. Estudante de Publicidade e nas horas vagas saiu por ai salvando o mundo como ajudar uma velhinha a atravessar a rua... 




VERÔNICA ÉRICA BERGAMIN
Achei ridícula essa atitude de algumas pessoas votarem para que a Mulher-Maravilha não pudesse representar a força feminina na ONU, pelo simples fato de alguns acharem que ela é sensual demais. Não se julga uma pessoa pelas vestes que ela usa, mas sim pelos seus feitos e pelo que simboliza. Onde está a justiça, igualdade e direitos iguais se sempre somos julgados pela nossa aparência e raramente pelos nossos atos? Apesar de ser uma personagem fictícia de HQs, a Mulher-Maravilha  se destaca pela sua força, coragem e determinação.
Verônica Érica Bergamin: É Técnica em Nutrição, adora ler e não perde um filme de super-heróis.  É fã do Batman e do Justiceiro porque gosta de heróis violentos mas chorou quando leu A Morte do Superman.





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