quinta-feira, 7 de julho de 2016

Criação de personagens (por JJ Marreiro) — Parte I











Introdução:

O elemento condutor principal de uma história, que vai atrair o leitor e conduzi-lo através da jornada narrativa, aquele com quem as situações acontecem…este é o personagem.

Cada personagem numa história precisa ter uma função, um motivo de estar ali… mesmo os figurantes. Obviamente os figurantes não precisam ser compreendidos tão profundamente quanto os protagonistas, ainda assim devem ser pensados como elementos constituintes do ambiente, alinhados ao tom da história.

Enquanto os figurantes devem ser basicamente sintonizados com o cenário e época, os protagonistas devem ir bem além disto, afinal são esses personagens que servirão de convite para apresentar todo um universo criativo aos leitores. É preciso então que os leitores percebam os protagonistas como elementos interessantes e se importem com eles.










Aspectos Físicos:

Aparência não é tudo, mas ajuda a vender um produto. O que faz você escolher um salgadinho em detrimento de outro? Imagine, numa lanchonete, dois salgadinhos: Um deles robusto, douradinho, de formato regular, sequinho na medida certa; e outro mirado, amassado, meio cinza, pingando óleo. Essa é a mesma relação de atração ou repúdio que pode ser manifestada na imagem de um personagem: Um desenho bem cuidado, figurino, adereços e postura passam as primeiras informações sobre um personagem. É o personagem e sua apresentação que servirão de cartão de visitas para sua história.




Elementos para a elaboração do visual do personagem:

Adequação ao ambiente da história, Estilo de desenho, Compleição física, Figurino e Adereços. Para cada desses itens você pode realizar uma pesquisa de imagens, reunindo referencias para desenhar adequadamente cada item.











Personagens criados para animação ou quadrinhos possuem visual mais prático, pelo simples fato de que serão desenhados muitas vezes. Assim, fitas soltas no uniforme, múltiplos cintos, ferramentas, adereços, correntes, rebites, fivelas e itens que exigem detalhamento e paciência são menos comuns nestes personagens. Ao contrário por exemplo dos games, onde os frames serão reproduzidos digitalmente e o criador só precisou gerar esses itens uma vez no modelo digital. Em parte isso explica porque os filmes modificam os uniformes simplificados dos super-heróis.












No design de personagens para empresas, os famosos mascotes, a simplificação também é uma ferramenta importante pois, através dela se reduz a quantidade de mensagens que o consumidor precisará para perceber a imagem do mascote e do produto. É importante pensar, neste caso, o mascote como extensão da empresa que representa, trazendo consigo seus valores e suas características.









Relação entre Aparência e  Personalidade:

Personagens bem parecidos e bonitões normalmente representam a ordem, a justiça, o bem, enquanto, os feios, magricelas de nariz adunco, olhos oblíquos são mais associados ao mal. Existem formas e conceitos básicos que possuem o mesmo significado para um grande número de pessoas por estarem presentes no chamado inconsciente coletivo, esses conceitos básicos recebem a denominação de arquétipos. (Para mais informações sobre isto pesquise Carl Gustav Jung, arquétipos e inconsciente coletivo).


A vantagem de usar uma associação direta entre imagem e significado é que você transmite valores, ideias e conteúdo por meio do desenho do personagem. Há um ganho de tempo neste caso onde não é necessário tecer muitas considerações para explicar que o cavaleiro de armadura reluzente é um guerreiro do bem, ou que o garoto pequeno de óculos fundo de garrafa é um geniozinho nerd. Neste caso os arquétipos possuem uma leitura direta e é um dos momentos em que o clichê ajuda no processo narrativo.












Por outro lado, ao subverter os arquétipos mostrando, por exemplo, um mago de barbas longas e óculos como um imbecil inepto, você trará o elemento surpresa para a constituição do personagem. Esta é uma boa vantagem para este recurso, infelizmente demandará mais tempo em termos de quadros e páginas para você fazer o leitor perceber que as aparências enganam.





Referências:

Com o uso das novas tecnologias ficou bem mais fácil encontrar imagens para estruturar suas criações, existem vários sites que fornecem elementos para composição não apenas de figurino, mas de cenário e adereços. O difícil neste caso é saber usar as ferramentas com criatividade mesclando a imagem fonte com seus próprios estudos para não cair em armadilhas comuns. Um tempo atrás vi em blogs dois desenhos baseados numa mesma foto usada como base para o desenho do personagem Judoka. Infelizmente nenhum dos artistas interferiu na imagem, usando-a sem modificação alguma. Esse tipo de incômodo deve ser evitado simplesmente usando a referencia como se deve, ou seja como uma bússola para conduzir seu caminho. A referência é um instrumento e não o trabalho final.

As enciclopédias visuais, catálogos de lojas, recortes de revistas e jornais ajudam a formar um banco de dados mais pessoal e por consequência vão diminuir as coincidências no caso de você aproximar muito sua arte da referencia usada.


Outra ferramenta útil é a câmera fotográfica com a qual pode-se gerar um guia de referencias ainda mais exclusivo e pessoal.Por fim figurinos e adereços aparecem com detalhes em diversos filmes e seriados. E mesmo que você possa fazer uma captura de imagem digital, usar o bom e velho caderno de desenhos para esboçar os elementos de seu interesse pode ser um bom exercício para seu poder de observação e para evoluir seu traço.











Há muito o que se falar sobre criação de personagens, suas funções e usos, métodos de criação e adaptação de uma mídia para outra. Um artigo apenas é pouco para contemplar o universo de coisas que se pode explorar dentro do tema, sem falar que cada autor pode desenvolver seu próprio método e sua própria classificação. Então é necessário entender essas dicas, sejam originadas de livros, matérias ou artigos como bússolas e nunca como dogmas.

Esta é uma repostagem de um artigo que perdeu-se quando o Laboratório Espacial migrou de servidor e foi refeita atendendo a pedidos. Se você curtiu, comente, compartilhe e espalhe pros amigos. Para ler a PARTE II desta matéria é só clicar AQUI.










Alguns sites para busca de imagens:
fotosearch
compfight
Outros links para explorar o tema:
Recriação do ASTRONAUTA (de Maurício de Sousa) por Gian Danton e JJ Marreiro
Por que devo saber classificar minhas criações?
Ajuste sua criação a faixa etária desejada: Manual de Classificação do Ministério da Justiça



http://laboratorioespacial.blogspot.com.br/2016/07/criacao-de-personagens-por-jj-marreiro.html
http://laboratorioespacial.blogspot.com.br/2016/07/criacao-de-personagens-por-jj-marreiro_22.html
http://laboratorioespacial.blogspot.com.br/2010/10/o-astronauta-de-mauricio-de-sousa-por.html

http://laboratorioespacial.blogspot.com/2018/05/dicas-de-producao.html






3 comentários:

  1. JJ, parabéns pelo excelente texto! Entender mais sobre o processo de criação de personagens é essencial para quem quer contar uma história. O que vejo bastante por aí são pessoas querendo contar histórias muito complexas com personagens mal desenvolvidos. Obrigado por mais esta oportunidade de aprendizado.

    Tenho uma dúvida:

    Pensei em criar uma personagem para uma tirinha em que cada aparição desta, ela utilizaria um figurino diferente. O que você acha disso? Existem regras ou boas práticas para esse tipo de abordagem? Entendo que o visual é importante para a identificação do personagem, mas como podemos trabalhar essa questão?

    Vou ler a parte 2, agora. Até mais.

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    1. A turma do Archie existe desde os anos 40/50, mais ou menos. E Os personagens dessa turma se vestem de acordo com a moda. E é muito bacana ver HQs dos anos 60 os personagens usando a moda Hippie, nos anos 80 os mesmos personagens com jaquetas a La Michael JAckson, Calças balão e mulets, nos anos 90 eles entraram na onda Grunge. Se, desde o começo de seu trabalho você faz uma pesquisa de vestimentas da moda isso pode enriquecer o lado da verossimilhança. Mas certamente vai levar mais tempo e mais, muito mais tiras pra criar um vínculo com a memória do leitor. A Mônica usa sempre o mesmo vestidinho vermelho por um bom motivo, mas nem todos os autores buscam esse tipo de resposta sensorial. MInha dica é: faça. Veja como ficou e se isso te deixou mais satisfeito (ou não) em termos de resultado. Daí vc pode tirar conclusões baseado em sua apreciação geral dos resultados.

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  2. Não conhecia o Archie Comics, muito obrigado pela recomendação! Achei o visual dos personagens muito bacana! Sobre a sua dica, tá certo, vou fazer! Acho que além de uma dica, eu precisava de uma motivação e você lembrou muito bem que a satisfação do autor é muito importante, afinal, aquele que espera satisfazer um público, primeiro tem que estar satisfeito com o que faz, não é mesmo? Valeu, JJ! Muito obrigado pela resposta.

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