quinta-feira, 14 de junho de 2018

No Traço de Hal Foster: A Face da Aventura

















   O brado de Tarzan faz-se ouvir das
profundezas das matas literárias desde 1912.Porém só chegou às HQs em fins da
década de vinte, passando então
a ser reverberado pelo talento de 
Harold Rudolf Foster.

   Hal Foster, o desenhista responsável por adaptar Tarzan para os quadrinhos, surpreendeu a todos com um realismo decorrente do emprego de técnicas que, até então, eram próprias da pintura e da ilustração de capas, mas que parcamente viam-se entre requadros.

   O esmero do canadense que mudara para Chicago e dedicara-se ao estudo de belas artes sobressaiu-se de pronto.


   Foster fez escola, tendo influenciado (direta ou indiretamente) a grande maioria do que foi desenhado em quadrinhos (notoriamente os de aventura). Não só pelo que fez em Tarzan, mas sobretudo pelo preciosismo empregado nas páginas de Príncipe Valente (personagem de sua inteira concepção).




Valente, um cavaleiro medieval, tinha suas epopeias desenhadas com extremo rigor no que concerne à pesquisa iconográfica e cenográfica.
Somado a isso, poses e pormenores anatômicos depreendiam-se da observação de modelos vivos e fotos. Quanto às composições, primavam por um equilíbrio classicista (comum a pinturas renascentistas), sendo paulatinamente aprimoradas por um método dividido em quatro etapas que passava pelo esboço, estrutura anatômica, drapejamento e minuciosa disposição de cada sombra.
Desse modo, cada painel guardava notável valor em si mesmo, sem, entretanto, deixar de servir à fluidez narrativa. Além do mais, antevendo um padrão dos quadrinhos mais atuais, os painéis relacionavam-se composicionalmente com os demais que integravam a página. Porém não de modo a constituir, prioritariamente, um percurso em "zigue-zague" e sim primando por unidade, harmonia e equilíbrio. Obtidos mais pelo cruzamento do eixo vertical e do horizontal, mais que pelas diagonais.




   Em todo caso, o fato é que a feitura das páginas, assim como de cada painel, era fartamente documentada e estudada. Vale lembrar: O tamanho original de uma dessas páginas é de aproximadamente 73,66 cm de largura por 96,52 cm de altura. Isso oportunizou a Foster cuidar atentamente dos detalhes de rostos e indumentárias.


   A arte-final era executada, a maior parte, com bico-de-pena. Complementada por retículas e cores vistas em algumas edições do material, mas não em todas. Naquelas em que vê-se apenas o traço e as áreas mais escuras do desenho, podemos notar uma variação de espessura dos contornos e uma distribuição de pesos que acabam ressaltando o estilo de Foster com requinte digno de quem se dedicou a retratar a realeza.



   Tamanho repertório não se originou de
puro auto-didatismo. Não, Foster é
devedor de sua formação na
Chicago Art Institute, além da
observação da obra de autores anteriores
a ele. Dentro os quais destaco
o nome de James Allen St. John,
por ser este também ter desenhado
Tarzan e compartilhar, em suas silhuetas
e algumas proporções, de muitos pontos
em comum com Hal Foster.
   Tendo sido inspirado por grandes desenhistas
e estendendo essa verve a tantos outros,
a obra de Foster constitui, se não um ápice,
um importante elo de uma cadeia de
excelência visual que beneficia a todos os
criadores de narrativas que primam
por dar forma à aventura fazendo jus a contornos
e proporções críveis, porém não necessariamente
apartados de um sutil "maneirismo". Ou, sendo mais justo, de um nível de estilização que faz jus a uma tradição estética previamente estabelecida.

 
   Em todo caso, o que o autor de Príncipe fez foi dar consecução à aplicação de uma ampla variedade de técnicas fundamentais para o desenho. Porém, não satisfeito com isso, ele elevou essa aplicação, nos quadrinhos, a um patamar jamais visto antes ou, devo dizer, depois.
    Dessa maneira, o "cânone" Fosteriano segue constituindo um tipo de cálice sagrado das histórias em quadrinhos. E é como penetra nos salões de Camelot que ergo uma caneca de hidromel e canto os feitos desse distinto cavaleiro.














Links:
Principe Valente (wikipedia)
Prince Valiant Fansite
Prince Valiant Family 
A Arte de Diego Silveira

http://laboratorioespacial.blogspot.com/2017/05/o-quadrinhista-e-ilustrador-diego.html


http://laboratorioespacial.blogspot.com/2018/06/as-faces-de-hercules-mark-forest.html
http://laboratorioespacial.blogspot.com/p/quadrinhos.html

2 comentários:

  1. Excelente artigo Diego! Ninguém melhor pra falar do mestre Hal Foster do que o amigo, a quem devo a eternamente agradecer por ter apresentado a mim obra do mestre. Forte abraço.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Grande amigo, muito me lisonjeia que tenha gostado. Como você bem sabe, sou fascinado pelo traço de Foster. E fico muito feliz por saber que você está entre os que enxergam o quão rara a obra dele é. :)

      Excluir