sábado, 12 de março de 2016

O REGRESSO em uma breve análise (por Diêgo Silveira)


The Revenant proporciona uma experiência como há tempos não assistia-se na telona: A de uma megaprodução situada em um ambiente similar ao velho-oeste americano. Em que isso implica?

As amplas, ermas e gélidas paragens do norte (ambiente pelo qual, como no oeste, arrastaram-se muitos pioneiros) ditam o tom soturno da narrativa. The Revenant, entretanto, não baseia-se em um conflito entre o homem e as intemperanças comuns àquela ou qualquer outra região do período da expansão americana. Tampouco nos fala sobre a diferença de forças entre um homem e um urso. Não é sobre um homem contra a natureza, mas sobre o homem que se revela lobo do próprio homem.

Ora, seria então somente a volta aos grandes espaços (fascinantes) o diferencial do filme? De fato, como tantas outras, a trama consiste em falibilidade e traição, resultando em mais uma jornada motivada por vingança e redenção, com direito a desenlace, inevitavelmente, trágico. Porém há algo além disso.

Algum cinéfilo, talvez, conjeturaria sobre a abrangência dos planos, ou em como foram resolvidas determinadas sequências (eu, particularmente, gostei muito dos trechos nos quais ele é perseguido pelos índios). Todavia, arrisco afirmar que, em meio a tudo isso, assoma o nível de má sorte (?) do personagem.

Digo “má sorte” e não azar, pois, apesar dos reveses, muito foi realizado pelo protagonista. Entretanto quem já viu o filme há de convir: Há pelo menos duas cenas ali que levam o nível de dor do personagem de trágico a cômico (com direito a risadas de boa parte da plateia, a menos na sessão que presenciei). O fato é que o personagem sofre pra burro… ou pra urso.

Se isso, eventualmente, confronta o espectador com os limites entre tragédia e comédia, de modo a, em determinadas cenas, comprometer o processo de imersão, empurrando a audiência para fora do filme (aconteceu comigo), por outro lado foi algo pontual.

Durante a maior parte das cenas, sente-se a rudeza do ambiente e da situação. Compartilha-se da determinação do personagem em, mais do que sobreviver, cumprir com seu objetivo. E, sobretudo, tem-se a certeza de que o oeste selvagem não está morto. Eternizado pela História, pela Ficção e por mais essa obra, o espírito do Western resiste, muito ou pouco, no íntimo de todo homem dotado de autodeterminação. O filme representa um retorno a isso. The Revenant é um Regresso ao Oeste.





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3 comentários:

  1. Amigo Diêgo, ouvi muito a respeito deste filme, que foi muito bem sintetizado em seu artigo. A pegada Western, o homem enfrentado o lobo de si mesmo etc. Mas me chamou a atenção a "comicidade" apresentada em algumas cenas trágicas. Ainda não o assisti. Os 8 odiados também parece ser muito bom, e, claro, a comicidade do Tarantino é presença garantida, espero...

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  2. Acho que a "comicidade" comentada pelo Diêgo Silveira deve se dar pelo nível de "rudeza" quase absurda de algumas cenas. A minha experiência de audiência do filme foi de tensão, suspense e em alguns momentos de dó, até o momento catártico do final. Não me passou o aspecto de comicidade ou humor em nenhum momento, mas entendo totalmente que algumas cenas possam ter sugerido isso ao espectador, como dito acima, dado o nível impressionante de dificuldade de alguns desafios que o protagonista encontra em sua jornada. Obrigado pelo comentário João Vitor.

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  3. É como disse o João Marreiro, João Victor: Algumas cenas são tão drásticas que provocaram risos, não só em mim, como em algumas pessoas na platéia que compareceu a mesma sessão que eu. Se foi algo que se repetiu, sessões afora, não posso afirmar. Mas, enfim, só você conferindo, para concluir se esse argumento tem procedência ou não. Recomendo. A despeito do nível de absurdo em alguns momentos, adorei o filme.

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