sexta-feira, 20 de maio de 2016

O Homem-Estadozunido contra o Caba-de-Ferro! (por Fernando Lima)


 
Eu gosto de séries e filmes de super-heróis. Eu já gostava deles quando eram produções baratinhas e continuo indo ao cinema para assistir, agora que se tornaram a bola da vez em matéria de super produção cinematográfica. Meu lado fã vibra e se diverte horrores e também se revolta um pouco com algumas coisas que vê na tela, mas ele — meu lado fã — é deveras parcial e explicitamente passional sobre o assunto, então toda opinião manifestada por ele deve ser tomada com ressalvas.

Quem realmente acaba falando a respeito dos filmes é minha outra porção. Aquela que também produz quadrinhos e se interessa profundamente pela arte de contar histórias. Aquela que estudou o assunto e até, absurdamente, já deu aulas sobre o mesmo. Esse meu aspecto é quem aceita convites para escrever resenhas, depois de cuidadosamente trancar o “fanboy” no porão.

Esclarecido isso, posso dizer que Guerra Civil é um bom filme, que, apesar de carregar o nome de um mega evento da Marvel nos quadrinhos, pouquíssimo tem em comum com a história original. Isso porém já era de se esperar e de forma alguma pode ser considerado um ponto negativo da película. Os efeitos visuais estão fabulosos. As sequências de luta são velozes e por vezes confusas e, confesso, me frustraram um pouco. A grande batalha do aeroporto, onde herói enfrenta herói, é o ponto alto do filme e a participação do Homem-Aranha já vale o ingresso. É um grande momento para ser fã de quadrinhos, então, corram assistam e vibrem com seus heróis favoritos enchendo a cara um do outro de sopapos.

Tente, todavia, não prestar atenção demais. Senão você acaba percebendo que o roteiro não faz o menor sentido. Na tentativa de criar uma trama densa, uma narrativa complexa e com (essa vai para os Impossíveis, relembrando a época do Manicomics) profundidade psicológica, os responsáveis pela história, acabaram criando uma quimera, montada com partes de animais exóticos e colada precariamente com cuspe.

Vou ignorar toda a motivação psicológica batida — velho clichê do “você matou minha família” — que, aparentemente, aflige a boa parte dos personagens de quadrinhos, ao ponto de ficar constrangedor. Vamos esquecer um pouco essas motivações e os problemas edipianos e vamos nos concentrar apenas no plano do vilão Zemo, que é, em verdade, a força motriz do filme.

Ah! Aviso agora que, se você não assistiu, deve parar por aqui e ir ao cinema mais próximo, quando você voltar, continuamos essa conversa, por que lá vem SPOILER de ruma!



Eu entendo que Zemo, como todo mestre da manipulação, estudou cuidadosamente a equipe e, dessa forma, identificou o Soldado Invernal como um elemento de ruptura que poderia levar os Vingadores à ruína. Se aproveitar da assinatura dos acordos para incriminar o Bucky, para que ele saísse do esconderijo foi um belo movimento, mas aqui começam minhas dúvidas:

Como ele sabia que Bucky não seria morto pela força anti-terrorismo? Ele precisou confiar muito nas habilidades do homem do escudo para essa parte do plano dar certo. Sem falar que ele já sabia para onde o levariam depois de capturado e quem seria o escolhido para interrogá-lo. Mas digamos que ele é uma pessoa muito bem informada.




Como ele poderia prever o resultado da batalha no aeroporto? Apenas aqueles que ele precisava para que seu drama psicológico se desenrolasse perfeitamente conseguem escapar, assim, o Capitão e o Soldado se mandam pra Sibéria pra impedir Zemo de libertar os outros Invernais. O vilão liga para o hotel em Berlim para revelar o corpo do verdadeiro interrogador, o que alerta Stark de que ele estava enganado sobre Bucky.

Então, para garantir que o Homem de Ferro chegasse na sibéria, Zemo tinha que saber que, não apenas um membro do time capitão seria capturado, mas que também essa pessoa saberia para onde o bandeiroso estava indo — tipo até as coordenadas da base secreta da Hidra — e que o playboy-milionário-filantropo iria “sozinho e como amigo” atrás do capitão

O plano incluía um ponto onde Tony perdoa Steve temporariamente, até a revelação do vídeo com o assassinato dos pais de Stark, que era a verdadeira razão pela qual Zemo queria os dois na Sibéria, onde o citado vídeo estava guardado. Nesse ponto eu gostaria de saber apenas, por que a Hidra guardaria esse vídeo? O que diabos fazia uma câmera numa estradinha secundária, em 1991, virada exatamente pro local do assassinato? Como a câmera dava close e mudava de ângulo para “pegar” melhor as execuções? Onde Zemo arrumou o dinheiro para pagar suas viagens pelo mundo, criar um aparelho de pulso eletromagnético e afins?













É um filme de fantasia e exige uma certa suspensão de incredibilidade, mas é necessária uma lógica interna e uma fluência de roteiro que não abuse do bom-senso do espectador. Eu até entendo que os roteiristas esticaram a lógica em favor do espetáculo e, não minto, adorei algumas cenas, mas as vezes, como dizem muito por aí: “menos é mais”.

Infelizmente não é o primeiro mega filme desse ano a abusar da minha boa vontade no quesito roteiro enrolado com super vilão irrelevante. Fico até pensando se Bucky e Tony não poderiam ter se entendido, se o Soldado Invernal tivesse simplesmente revelado ao Homem de Ferro que o nome de sua mãe era Martha.






 MAIS COISAS LEGAIS:
http://laboratorioespacial.blogspot.com.br/2016/05/capitao-america-guerra-civil-sem-poilers.html


http://laboratorioespacial.blogspot.com.br/2016/03/batman-vs-superman-ame-ou-odeie-por-jj.html




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