Eu gosto de séries e filmes de super-heróis. Eu
já gostava deles quando eram produções baratinhas e continuo indo ao cinema
para assistir, agora que se tornaram a bola da vez em matéria de super produção
cinematográfica. Meu lado fã vibra e se diverte horrores e também se revolta um
pouco com algumas coisas que vê na tela, mas ele — meu lado fã — é deveras
parcial e explicitamente passional sobre o assunto, então toda opinião
manifestada por ele deve ser tomada com ressalvas.
Quem realmente acaba falando a respeito dos
filmes é minha outra porção. Aquela que também produz quadrinhos e se interessa
profundamente pela arte de contar histórias. Aquela que estudou o assunto e
até, absurdamente, já deu aulas sobre o mesmo. Esse meu aspecto é quem aceita
convites para escrever resenhas, depois de cuidadosamente trancar o “fanboy”
no porão.
Esclarecido isso, posso dizer que Guerra
Civil é um bom filme, que, apesar de carregar o nome de um mega evento da
Marvel nos quadrinhos, pouquíssimo tem em comum com a história original. Isso
porém já era de se esperar e de forma alguma pode ser considerado um ponto
negativo da película. Os efeitos visuais estão fabulosos. As sequências de luta
são velozes e por vezes confusas e, confesso, me frustraram um pouco. A grande
batalha do aeroporto, onde herói enfrenta herói, é o ponto alto do filme e a
participação do Homem-Aranha já vale o ingresso. É um grande momento para ser
fã de quadrinhos, então, corram assistam e vibrem com seus heróis favoritos
enchendo a cara um do outro de sopapos.
Tente, todavia, não prestar atenção demais.
Senão você acaba percebendo que o roteiro não faz o menor sentido. Na tentativa
de criar uma trama densa, uma narrativa complexa e com (essa vai para os
Impossíveis, relembrando a época do Manicomics) profundidade psicológica,
os responsáveis pela história, acabaram criando uma quimera, montada com partes
de animais exóticos e colada precariamente com cuspe.
Vou ignorar toda a motivação psicológica batida
— velho clichê do “você matou minha família” — que, aparentemente, aflige a boa
parte dos personagens de quadrinhos, ao ponto de ficar constrangedor. Vamos
esquecer um pouco essas motivações e os problemas edipianos e vamos nos
concentrar apenas no plano do vilão Zemo, que é, em verdade, a força motriz do
filme.
Ah! Aviso agora que, se você não assistiu, deve
parar por aqui e ir ao cinema mais próximo, quando você voltar, continuamos
essa conversa, por que lá vem SPOILER de ruma!
Eu entendo que Zemo, como todo mestre da
manipulação, estudou cuidadosamente a equipe e, dessa forma, identificou o
Soldado Invernal como um elemento de ruptura que poderia levar os Vingadores à
ruína. Se aproveitar da assinatura dos acordos para incriminar o Bucky, para que
ele saísse do esconderijo foi um belo movimento, mas aqui começam minhas
dúvidas:
Como ele sabia que Bucky não seria morto pela
força anti-terrorismo? Ele precisou confiar muito nas habilidades do homem do
escudo para essa parte do plano dar certo. Sem falar que ele já sabia para onde
o levariam depois de capturado e quem seria o escolhido para interrogá-lo. Mas
digamos que ele é uma pessoa muito bem informada.
Como ele poderia prever o resultado da batalha
no aeroporto? Apenas aqueles que ele precisava para que seu drama psicológico
se desenrolasse perfeitamente conseguem escapar, assim, o Capitão e o Soldado
se mandam pra Sibéria pra impedir Zemo de libertar os outros Invernais. O vilão
liga para o hotel em Berlim para revelar o corpo do verdadeiro interrogador, o
que alerta Stark de que ele estava enganado sobre Bucky.
Então, para garantir que o Homem de Ferro
chegasse na sibéria, Zemo tinha que saber que, não apenas um membro do time
capitão seria capturado, mas que também essa pessoa saberia para onde o
bandeiroso estava indo — tipo até as coordenadas da base secreta da Hidra — e
que o playboy-milionário-filantropo iria “sozinho e como amigo” atrás do
capitão
O plano incluía um ponto onde Tony perdoa Steve
temporariamente, até a revelação do vídeo com o assassinato dos pais de Stark,
que era a verdadeira razão pela qual Zemo queria os dois na Sibéria, onde o
citado vídeo estava guardado. Nesse ponto eu gostaria de saber apenas, por que
a Hidra guardaria esse vídeo? O que diabos fazia uma câmera numa estradinha
secundária, em 1991, virada exatamente pro local do assassinato? Como a câmera
dava close e mudava de ângulo para “pegar” melhor as execuções? Onde
Zemo arrumou o dinheiro para pagar suas viagens pelo mundo, criar um aparelho
de pulso eletromagnético e afins?
É um filme de fantasia e exige uma certa
suspensão de incredibilidade, mas é necessária uma lógica interna e uma
fluência de roteiro que não abuse do bom-senso do espectador. Eu até entendo
que os roteiristas esticaram a lógica em favor do espetáculo e, não minto,
adorei algumas cenas, mas as vezes, como dizem muito por aí: “menos é mais”.
Infelizmente não é o primeiro mega filme desse
ano a abusar da minha boa vontade no quesito roteiro enrolado com super vilão
irrelevante. Fico até pensando se Bucky e Tony não poderiam ter se entendido,
se o Soldado Invernal tivesse simplesmente revelado ao Homem de Ferro que o
nome de sua mãe era Martha.
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