quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Uma só bala! (por Diêgo Silveira)



Imagine-se em um típico tiroteio de Bang-Bang. Não o duelo convencional (um contra um, ao pôr-do-sol), mas sim naquela cena em que, com um ou no máximo dois colts carregados (entenda-se seis balas em cada tambor e pouquíssimas no coldre) você adentra uma cidade semideserta e encontra-se cercado de um sem número de rufiões, ocultos em cada esquina, todos a postos e aptos para dar cabo de sua vida.



Ora, numa enrascada dessas, você não há de desperdiçar nem um tiro sequer, certo? E, caso possa derrubar dois inimigos com uma mesma bala, é precisamente isso que fará! Pois sabe que, a despeito de suas habilidades, a munição é escassa e não mais abundantes serão os momentos em que poderá recarregar o tambor. Cada tiro é vital! E, fatalmente, chegará o momento em que só lhe restará uma bala. Quanto ao número de contendores a serem obliterados? Você não sabe...

Esse tipo de raciocínio é de suma conveniência aos apostadores do mercado de quadrinhos brasileiro. Um pensamento linear, do tipo “One-Shot”. A expressão, de origem inglesa, vem sendo empregada para denotar as HQs cujo começo, meio e fim de uma narrativa são contemplados num mesmo episódio. Os quadrinhos one-shots não preveem ou requerem, para uma sensação de conclusão ou encerramento da narrativa, de um segundo ou terceiro episódio. Eles são autossuficientes e isso desobriga o leitor de acompanhar uma série para sentir que usufruiu do toda da história, apresentada-lhe casualmente.

Por que tal raciocínio é tão adequado aos autores e publicadores de quadrinhos daqui? Porque a maior parte das experiências passadas com séries envolveu um penoso processo de descontinuação. Fato que deve-se à escassez de investimentos no setor, ainda incipiente em muitos aspectos, afora várias outras razões.

Todavia, com este artigo não pretende-se inferir que histórias autoconclusivas são potencialmente superiores a narrativas serializadas (embora a opinião deste articulista, reconhecidamente, tenda a isso). Também não intenta-se afirmar que histórias capitulares (constituída de vários capítulos publicados separadamente) deveriam ser banidas do contexto editorial brasileiro... Nem poderiam. Afinal é de conhecimento comum que ambos os modelos têm sua importância ficcional e editorial.
A bem da verdade, o ponto crucial deste texto é... Num mercado ainda inóspito como o do quadrinho brasileiro, são parcas as garantias de que um leitor (convencional ou não) há de conceder um segundo olhar à sua obra.

Portanto recomenda-se: Se você é um autor e oferece ao público uma experiência de leitura, trate de apresentar algo representativo do todo do seu trabalho. Algo que tenha consistência, que fale por si, que sustente-se sobre as próprias bases.

Lembre-se... Essa história pode ser a derradeira. Pode ser a sua única bala.




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