quarta-feira, 14 de março de 2012

Prismas

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O prisma é uma estrutura que modifica a luz que passa através de si. Assim são os desenhistas de quadrinhos. Eles observam o mundo real e reinterpretam segundo uma estética própria, ou encomendada. Os que possuem maior liberdade de expressão são artistas que produzem de maneira autoral (caso de alguns brasileiro, os undergrounds e boa parte dos europeus). Em contrapartida está o caso dos desenhistas norte-americanos, alguns dos japoneses, boa parte da produção de material de merchandising e institucional, ou seja, uma produção de aspectos visuais que atendem a demanda de um mercado específico, uma verdadeira estética encomendada. A princípio por existir uma questão mercadológica e editorial contextualizando esses produtos e enquadrando sua produção num esquema industrial que movimenta milhões de dólares.

Para se enquadrar no primeiro caso, ou seja trabalhar e seguir uma linguagem própria e definir soluções gráficas pessoais acredito que seja necessário algum conhecimento de desenho, mas sobretudo uma grande noção de “narratividade”. Um controle sobre fatos, personagens e transições de quadro que favoreça sobretudo a clareza e compreensão do que está sendo contado ou questionado. Neste caso específico, do artista talhado para comunicar suas próprias idéias, torna-se irrelevante o apuro técnico e a sedução através da “beleza” da imagem. A beleza não precisa estar presente no desenho dos quadros, personagens e cenários, mas pode estar sub-repticiamente costurada pelas ações ao longo da trama e seu significado. Mas é claro o que chamo aqui de beleza (a busca da simetria clássica romântica) pode não ter o mesmo significado pra você leitor.



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Por outro lado o artista que verte seus esforços para o esquema industrial de produção tem um limite de estilização que deve se enquadrar nas regras ditadas pelo mercado, pela estética convencionalmente aceita e difundida entre seus apreciadores. E estes estilos são mutáveis sofrendo influencia de modismos e de recursos tecnológicos. O traço de Jack Kirby, influenciou gerações inteiras de artistas, marcou época e virou moda nos anos 60/70. Hoje entretanto (a menos que se aborde em termos de estética retrô) dificilmente ganharia atenção e espaço no mercado.

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Ao se comentar e criticar um trabalho de quadrinhos é necessário levar em conta estes fatos. Se é um trabalho com personagens do primeiro escalão da DC ou Marvel Comics por exemplo, faz sentido esperar traços encantadores como são os de Mike Deodato, Ivan Reis, Ed Barrows, Carlos Pacheco, Brian Hitch. Quando um artista de traço pessoal chega a esses personagens a leitura do grande público ganha um ruído de compreensão, pois Batman e Homem-Aranha foram criados para serem desenhados como super-heróis: corpos esbeltos, fisionomias marcadas, fortes, retratados em posturas combativas e como produtos de mercado são talhados também para sintonia do traço da moda. O que acontece com algumas exceções quando um desenhista de origem autoral lança seu nankim sobre a égide do produto é que este produto está sendo revisto, revisitado, relido e com a audácia do artista autoral pode acabar ganhando mais força e algum diferencial entre seus pares.

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