Diêgo Silveira, jornalista, desenhista e contador de histórias, criou sua primeira HQ aos sete anos, para participar de um concurso da escola, sendo premiado com um livro. Na adolescência, foi aluno dos cursos de desenho e quadrinhos realizados pelo
Graphit Estúdio e, mais tarde, pelo
Estúdio Daniel Brandão. Durante sua passagem por esses cursos, editou e colaborou com diversas produções independentes, sendo o mais representativo o Quadrinho Independente
Prancheta (15 números). Também colaborou com a revista
Manicomics e com as tiras do
Capitão Rapadura.
Diêgo foi monitor no projeto de Extensão
Oficina de Quadrinhos (da Universidade Federal do Ceará). Ministrou algumas oficinas em escolas públicas. Também trabalhou no
NAAH/S (Núcleo de Apoio a Altas Habilidades/Superdotação) onde não só ensinava desenho e quadrinhos, como orientava interessados a empregar seu talento no campo do desenho.
1- Diego o que você acha que leva um jovem hoje a se interessar por Histórias em Quadrinhos ou mangás?
Hoje, como quando conheci os quadrinhos, penso que o desenho é o grande fator responsável por atrair a garotada. Só depois de fisgados pela beleza dos desenhos é que a rapaziada percebe serem as HQs um meio de dar forma às nossas fantasias. Um meio de contar e se deleitar com uma história.
Também considero outro fator: O desejo de inclusão social. As HQs podem contribuir para com a inclusão de um indivíduo num grupo social e até em alguns nichos de mercado.
2- Algumas pessoas ainda fazem distinção entre quadrinhos e mangás, o que vc acha disso?
Percebo nos fãs de mangás um forte desejo de valorizar as HQs japonesas por meio da exaltação de características que lhe são singulares. E o nome Mangá resume bem aquilo que eles enaltecem. O leitor comum de mangá sabe o que quer (olhos grandes, linhas de impacto, um determinado tipo de humor, etc). Mas a maioria não sabe o que está perdendo (refiro-me a outras formas de leitura).
É como dizer: Meu negócio é o Campeonato Brasileiro. Dane-se o futebol Europeu! O apreciador de futebol se interessa, antes de tudo, por bons jogos. Independente do estilo. Sejam travados entre brasileiros ou guatemaltecos.
Bem, meu trabalho, como professor, é falar para todos os admiradores do futeb… Opa, quer dizer, dos quadrinhos! Pretendo, no curso do Cuca, contemplar estilos de diferentes países, visando o que cada um tem de mais interessante.
3- A produção de storyboards e material ilustrativo para publicidade refletem alguns entre os vários aspecto profissionais que envolvem a arte sequencial. O que vc acha necessário para uma postura profissional nesse ramo de trabalho?
Quadrinhos, story boards e ilustrações publicitárias, essencialmente, têm em comum a necessidade de usar imagens para comunicar uma idéia. Deve-se escolher o que mostrar de maneira que a maioria das pessoas entenda o que é importante dentro da obra/peça. Esse aspecto é primordial. Requer cultura e segurança para desenhar (se não belamente, ao menos de modo reconhecível e interessante) aquilo que sua mente disser ser relevante.
No tocante ao profissionalismo, deve-se fazer o mesmo que em outras profissões: Cumprir prazos, cobrar um preço adequado, oferecer um produto de qualidade dentro de suas reais possibilidades, etc.
4- Os quadrinhos são hoje rica fonte de referencia para o universo dos games, do cinema, animação e da área de licenciamento, onde um curso pode ajudar no direcionamento de conteúdos de profissionais que tenham afinidades com essas áreas?
Um curso de histórias em quadrinhos abrange conteúdos aplicáveis em qualquer uma das áreas citadas. A concepção visual de personagens é basicamente a mesma para games, animações, cinemas… Inclui estudo de fisionomia, expressões, gestos, trajes, adereços, aliados a uma personalidade ou mensagem. Não esqueçamos da capacidade de visualização da figura humana (e várias outras) a partir de diferentes ângulos (as HQs exercitam isso). E por aí vai. Definitivamente, se um profissional deseja se qualificar em alguma área ligada a visual (inclusive moda, arquitetura e muitas outras não citadas) um curso de HQs ajuda.
5- O Centro Urbano de Cultura Arte e Esporte, o CUCA está abrindo espaço para os quadrinhos com essa iniciativa. O Curso é inteiramente gratuito e todo o material será fornecido pelo CUCA. Como você vê a importancia dessa iniciativa?
Profissionalmente, considero que essa iniciativa fomenta a produção no campo das artes visuais. A médio prazo, creio que isso resultará em maiores investimentos e circulação de capital num meio em que atuo.
Socialmente falando, me agrada que projetos assim sejam realizados. Pois contribuem para com uma redução da ociosidade/criminalidade, na medida em que capacitam e direcionam pessoas para o mercado de trabalho.
Além do mais, ainda que nem todas as pessoas formadas em cursos dessa natureza tenham o interesse ou a oportunidade de se tornarem profissionais da área, o simples fato de aprenderem algo tão prazeroso de se fazer como contar uma história com imagens, já basta para reduzir a marginalidade.
Pois, primeiro, um saber, muitas vezes, chama outros, tendendo, eventualmente, a ter usos comerciais. Segundo: criar quadrinhos é uma das mais estimulantes e saudáveis maneiras que conheço de passar o tempo e ocupar a mente. Aprender sobre quadrinhos educa e entretém numa boa medida.
6- Como será o programa do curso, Diêgo? Vocês vão contemplar todas as etapas de produção de uma HQ? O MAngá também será abordado dentro nesse curso?
Sim, todas a etapas serão contempladas. Isto é: Todas as etapas tradicionais. Entenda-se: Argumento, roteiro, desenho, arte-final, letras e balões, cores… Até mesmo conhecimentos de edição e publicação serão abordados.
Quanto ao mangá, pode apostar que eles será enfocado, tanto ou mais que outros estilos. Tenho o cuidado de adequar (por vezes, sutilmente) minhas explanações ao perfil dos alunos. O programa permanecerá o mesmo, mas o aprofundamento de cada tópico pode tender mais para A ou para B, tendo em vista as carências e interesses da turma.
7- Em Fortaleza se vê hoje um agito na cena cultural relacionada a Histórias em Quadrinhos. Os Quadrinhos ocupam mais espaço do que quando você começou a publicar?
Sim. Hoje, vejo mais cursos, eventos, jornalistas e leitores interessados em quadrinhos que nos anos noventa. As coisas têm melhorado. Ainda estão muito longe do ideal, mas têm melhorado. Em termos de produção não diria que Fortaleza avançou muito. Possivelmente em quantidade. Há mais gente produzindo quadrinhos. Em grande parte motivada pelos cursos, eventos, como também pela publicação de mangás e animês. Mas quanto à qualidade… Como a maioria dos nossos autores não têm na feitura duma HQ sua principal fonte de renda, acontece desse autor se dedicar aos quadrinhos apenas nas suas poucas horas de lazer. Isso retarda o amadurecimento das HQs em Fortaleza. O consumo de material produzido e comercializado aqui é muito restrito, inviabilizando maiores investimentos na qualidade do que é ofertado.
Mas as HQs em Fortaleza têm conquistado espaço sim. E algo que, a meu ver, simboliza isso com ênfase é a Gibiteca de Fortaleza (recém nascida, embora em estado de gestação desde os anos oitenta).
8- Para quem tiver interesse quais são os dados principais do curso? Telefone, endereço, como a pessoa deve fazer para se matricular?
Poderão se matricular no curso pessoas que saibam ler, gostem de desenhar e contar histórias. Essas pessoas deverão realizar a matrícula no Cuca (Av. Pres, Castelo Branco, 6417 – Barra do Ceará). Para isso deverão levar um documento de identificação e comprovante de residência. Mais informações pelo telefone: 3237-4688.
9-Diêgo Silveira, muitíssimo obrigado pelo papo. Boa Sorte no Curso e vamos torcer para que as pessoas aproveitem bem essa oportunidade pois não é todo dia que um curso desse nível é oferecido gratuitamente.
Valeu, Pessoal do Laboratório Espacial! Sabe, na época que estava começando a ler e aprender sobre HQs, eu sonhava com um curso! Quando soube que o Graphit oferecia isso, saltei de empolgação (literalmente). Hoje, as pessoas têm oportunidade de fazer um curso desses de graça. Sei o valor disso, como sei que outras pessoas reconhecem esse valor, e gostaria muito que essas pessoas fossem informadas de tal oportunidade. Talvez alguém, com a mesmo entusiasmo que eu tinha, esteja dando um salto agora.
Curso de Quadrinhos do Cuca
Narrativa em quadrinhos – Segredos e técnicas de criação
e produção de histórias em quadrinhos.
Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (CUCA)
Informações
(085) 3237-4688 begin_of_the_skype_highlighting (085) 3237-4688