sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

O Bárbaro e a MARVEL ! por Gian Danton


 

No final da década de 1960 os super-heróis começaram a entrar em crise. O final da era de prata dos quadrinhos foi marcado pelo desaparecimento de várias editoras e títulos. Na década de 1970 começaria a chamada era de bronze. Foi um período em que os editores se viram obrigados a testar novos formatos e gêneros na tentativa de manter o interesse do leitor. Um personagem que encarnou essa época foi Conan, o bárbaro. 


Conan, criado pelo escritor texano Robert E. Howard, surgiu na história The Phenix on the sword, publicada na revista pulp Weird Tales, em 1932. Na década de 1960 suas histórias foram republicadas, chamando a atenção de Roy Thomas, o roteirista mais importante da Marvel, depois de Stan Lee. Os dois resolveram que aquilo daria um bom quadrinho. O dono da Marvel, Martin Goodman, não gostava do personagem. Afinal, ele era amoral, vingativo, ladrão e adorava uma bebedeira e uma orgia. Para quem achava que os quadrinhos eram lidos só por crianças, esse parecia um personagem que não iria agradar. Stan Lee, no entanto, convenceu-o a publicar. 

 


Para a desenhar a história foi designado um ilustrador inglês, novo no meio, chamado Barry Smith. Ele fez um Conan com visual art-nouveau que chamou a atenção do público. Apesar do sucesso, Smith acabou abandonando os quadrinhos para se dedicar a outras variantes artísticas. Para substituí-lo foi chamado um veterano da Marvel, John Buscema, que mudou o personagem, tornando-o mais másculo e mais bárbaro, definindo o que seria o visual do personagem dali para a frente. Quando a revista deixou de ser colorida e passou a ser publicada no formato magazine (maior que o dos gibis), as vendas estouraram, pois a revista alcançou um público bem mais adulto, que já tinha desistido de ler super-heróis. 


O sucesso de Conan também esteve ligado aos ótimos arte-finalistas de origem filipina, como Ernie Chan e Alfredo Alcala, que distanciavam o traço de Buscema daquele que ele usava nos super-heróis.
O sucesso absoluto do personagem fez com que surgissem vários outros personagens nos mesmos moldes. No começo, a própria Marvel aproveitou para publicar outros personagens criados por Robert E. Howard, como Kull, o conquistador e Sonja, a guerreira, que fez muito sucesso no traço de Frank Thorne. Tratava-se de uma mulher que só podia entregar sua virgindade ao homem que a vencesse em combate. Como isso nunca acontecia, a história se equilibrava entre a sensualidade e a ação. 


A DC entrou na onda com O Guerreiro (Warlord), criação de Mike Grell, sobre um piloto da força aérea norte-americana que vai parar no centro da terra, onde existe um mundo dominado pela espada e pela magia. 


Na década de 1980 Conan ganhou uma versão cinematográfica, estrelada por Arnold Schwazenegger, o primeiro sucesso cinematográfico do ator. (Nota do Editor: Scharzennegger encarna o cimério em 1982 e em 1984. A ideia inicial era fazer uma franquia nos moldes de 007, no entanto o herói só retornou aos cinemas em 2011,vivido desta vez por Jason Momoa).

 

Conan fez um sucesso extremo no Brasil, onde continuou popular mesmo quando a Marvel não estava mais produzindo novas histórias. Por causa disso, as editoras (inicialmente a Abril e depois a Mythos) continuaram a revista apenas com republicações. Depois o personagem foi adquirido, nos EUA, pela editora Dark Horse (ficando por lá de 2003 a 2018), nesse período a fase assinada pelo roteirista Kurt Buziek e pelo desenhista Cary Nord conseguiu agradar aos velhos fãs. (Nota do Editor: Conan retorna à Marvel em 2019 em quadrinhos de esmerado cuidado gráfico e editorial. O objetivo parecia ser o de superar visualmente o material produzido pela Dark Horse ao mesmo tempo em que se apresentava uma maior refinamento visual, houve uma retomada de um character design mais alinhado com o de John Buscema. Os contos originais de Conan entraram em domínio público em vários países da Europa e no Brasil. O Direito Patrimonial , ou seja o direito de editar/adaptar os contos está em domínio público nestes países. Isto significa que as histórias podem ser reimpressas e reeditadas livremente sem no entanto contar na capa o nome CONAN, que segue como marca registrada da Conan Properties International).



segunda-feira, 21 de novembro de 2022

RUBENS DE AZEVEDO: Um Cearense Espacial

 


Em 29 de outubro de 2021 (véspera do centenário de Rubens de Azevedo) foi anunciado que o asteroide 84342, descoberto por Charles Juels e pelo brasileiro Paulo Holvorcem em 2002, foi nomeado oficialmente como (84342) Rubensdeazevedo. O planetário do Centro Cultural Dragão do Mar (um dos agradáveis pontos turísticos da capital do Ceará) foi denominado, desde sua criação como Planetário Rubens de Azevedo. A esta altura, caso não conheça a história, você poderia se perguntar o porquê tantas homenagens. Calma, a resposta está a seguir.

Em 1938 Rubens de Azevedo desenhou o primeiro mapa brasileiro da Lua, em 1947 criou a primeira associação amadora de astronomia do Brasil, em 1948 fundou o primeiro Observatório Popular do país, em São Paulo fundou a Sociedade Brasileira de Selenografia. Descobriu um Vale na Lua, posteriormente confirmado por astrônomos chilenos e também um fenômeno Lunar Transitório na Cratera Aristarco, confirmado pelo astronauta Edwin Aldrin quando em órbita lunar.



 

No estado de São Paulo, foi professor de Selenografia na Escola Municipal de Astrofísica, professor assistente de Astronomia e Astronáutica da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Sorocaba e na Universidade Estadual do Ceará, professor de Geografia Astronômica. Fundou o Observatório Astronômico da Paraíba e participou durante seis anos como membro ativo do Lunar International Observers Network, criado pela Nasa para assessorar as missões Apolo.

É notório que alguns cientistas se iniciaram na carreira após terem a curiosidade científica atiçada pela Ficção (seja por meio de novelas de rádio, livros, filmes ou quadrinhos), Rubens quando jovem não apenas nutriu apreço por variada literatura, mas dedicou-se também a produzi-la. Entre suas obras estão livros sobre astronomia, desenho e símbolos nacionais.



Para os fãs de quadrinhos, o trabalho de Rubens Azevedo continua sendo uma preciosidade quase arqueológica, já que não existem reimpressões de seus trabalhos nessa área. Notadamente:

-A Tira de humor SACHA, O DETETIVE PARTICULAR (1937)

-A Tira tablóide de aventura e Ficção Científica: UMA VIAGEM A SATURNO (1941) publicada inicialmente de modo serializado no suplemento infantil do jornal O ESTADO. O material foi compilado posteriormente com patrocínio da casa Brasil & Matos Ltda - comestíveis e bebidas nacionaes e estrangeiras.

-Adaptação para quadrinhos: As Aventuras de Simbad o Marujo

-Tira de humor: Na Vila da Caixa Prego

-HQ de aventura sci-fi: PRISIONEIROS DE HYPERION (1961)

O material artístico de Rubens foi produzido enquanto dava os primeiros passos também rumo a Astronomia. Seus quadrinhos eram cheios de energia, vitalidade, tracejado rico, estilo alinhado com as referências e linguagem gráfica de sua época. Rubens foi um autor, cientista e artista destes que deixam, após sua partida, nada menos que um legado inspirador. 

LINKS:
Sasha, o Detetive (em Tiras Memory)

Uma Viagem a Saturno (Tiras Memory)

Rubens de Azevedo homenageado com nome num Asteróide (Olhar Digital)

Rubens de Azevedo (wikipedia)

 


sábado, 29 de outubro de 2022

ALAN MOORE detona proto-fascistas em carta ao Brasil !

 

Alan Moore, autor de Watchmen e V de Vingança, escreveu no dia 28 de outubro (2022) às vésperas da eleição presidencial brasileira uma carta ao Brasil em suas redes sociais. Ciente de que a política predatória da extrema direita é uma ameaça aos recursos naturais e aos direitos civis, pediu a seus fãs que votem por um futuro mais humano. Uma versão traduzida da mensagem você lê a seguir:

“Querido Brasil,

Estamos rapidamente esgotando as últimas chances de salvar o planeta e seus povos. Nosso mundo está mudando, mais rápido do que nunca, e nos forçando a nos adaptar mais rapidamente se quisermos sobreviver. Dos caçadores e coletores de alimentos à agricultura, da agricultura à indústria, da indústria ao que quer que esteja tomando forma agora – essa nova condição para a qual ainda não temos um nome – a humanidade já viu esse tipo de mudança monumental antes, embora não com tanta frequência. Essas transições não são causadas por forças políticas, mas pelos movimentos de maré imparáveis ​​da história e da tecnologia, que é uma maré da qual podemos aproveitar nossas embarcações ou podemos ser arrastados. O mundo está girando, se transformando necessariamente em um novo lugar, e só podemos girar com ele ou então perderemos a biosfera que nos sustenta para sempre. A maioria das pessoas, acredito, sabe disso em seus corações e sente em seus estômagos.

E, no entanto, nos últimos cinco anos, vimos em todo o mundo um ressurgimento feroz dos ideais políticos e econômicos que nos levaram a essa situação claramente desastrosa. A agressão indisfarçável desse avanço de extrema direita me parece tão forte, e ao mesmo tempo tão desconectada de qualquer realidade, que só pode nascer do desespero; o medo histérico sentido pelos mais impregnados nas estruturas de poder do velho mundo, que sabem que o novo mundo pode, em último caso, não ter lugar para eles. Temendo por sua própria existência, pela existência da visão de mundo da qual se beneficiam, eles encheram o cenário mundial ao longo desta última meia década com personagens de pantomima cada vez mais barulhentos, exagerados e birrentos, para quem nenhum curso de ação é muito corrupto ou desumano. E nenhuma linha de raciocínio tão descaradamente absurda.

Descaradamente monstruosos, estes perseguiram minorias raciais e religiosas, ou seus povos nativos, ou os pobres, ou mulheres, ou pessoas de diferentes sexualidades, ou todas as anteriores. Durante a pandemia ainda em atividade, eles colocam sua postura política e suas doutrinas financeiras diante da segurança de suas populações, presidindo centenas de milhares de mortes potencialmente desnecessárias; centenas de milhares de famílias devastadas, comunidades devastadas. Com suas nações em chamas, inundadas ou secas pela seca, eles insistiram que a mudança climática era uma farsa esquerdista para incomodar a indústria e rotularam os manifestantes ambientais ou sociais de terroristas.

Adotando o estilo circense fascista do italiano Silvio Berlusconi, tivemos a perigosa teatralidade insurrecional de Donald Trump na América do Norte e as ruinosas indignidades de Boris Johnson e seus substitutos no (atualmente) Reino Unido. E, claro, o Brasil teve Jair Bolsonaro.

Embora nós, no hemisfério Norte, obviamente contribuamos muito mais do que nosso quinhão de figuras políticas horríveis para a situação do mundo, não conheço ninguém com um pingo de consciência e compaixão que não esteja chocado com o que Bolsonaro, chegando ao cargo com Trump. Influenciando no que fez ao seu enorme e belo país, juntamente com o que ele continua a fazer ao nosso planeta relativamente pequeno e de alguma forma ainda belo. Assistimos desesperados enquanto, cantando no mesmo hinário de sua inspiração norte-americana, Bolsonaro criticou os povos indígenas do Brasil, seus homossexuais e os direitos de suas mulheres a abortos seguros, alimentando uma fogueira descontrolada de ódio como uma distração para suas agendas sociais e econômicas, enquanto simultaneamente inunda sua cultura com armas. Nós o vimos tentar abrir caminho pela pandemia, cuspindo sua idiotice de antivacinação, e vimos o aumento da área de cemitérios preparados às pressas no Brasil; aquelas grades de escaninhos em solo cinza com flores mortas aqui e ali ou marcadores pintados como um pingo de cor.

Também observamos enquanto ele respondia à perspectiva de novas leis ambientais internacionais simplesmente acelerando sua destruição suicida da floresta tropical, sufocando nossa atmosfera com a selva em chamas, deslocando ou despachando pessoas que viveram nessas regiões por gerações e aparentemente conspirando ou fechando os olhos para o assassinato de jornalistas que investigavam essa brutal limpeza étnica.

Uma respeitada revista científica britânica que eu assino, New Scientist, recentemente descreveu as eleições iminentes no Brasil como um ponto potencialmente crucial sem retorno na batalha de vida ou morte de nossa espécie contra a catástrofe climática que nós mesmos projetamos. Simplificando, Jair Bolsonaro pode continuar, lucrativamente, a agradar os interesses corporativos que o apoiam, ou nossos netos podem comer e respirar. É um ou outro.

Como anarquista, há muitos poucos líderes políticos que eu poderia tolerar completamente, muito menos endossar, mas de tudo o que ouvi ou li sobre ele, Luiz da Silva, Lula, parece ser um desses indivíduos raros. Suas políticas parecem ser justas, humanas e práticas e, pelo que entendi, ele prometeu reverter muitas das decisões mais desastrosas de Bolsonaro. Reparar os danos desses últimos cinco anos certamente não seria fácil ou sem custo, e Lula estaria herdando um cenário político muito desfigurado. No mínimo, porém, desta distância, ele tem pelo menos o olhar de um candidato que reconhece que a humanidade está passando por uma de suas raras transformações sísmicas e percebe que devemos mudar a maneira como vivemos, se quisermos viver.

Ele parece um político comprometido com o futuro, com seu trabalho árduo e suas possibilidades justas e maravilhosas, em vez dos espasmos de morte agitados e destrutivos de um passado insustentável. A próxima eleição do Brasil é, segundo me disseram, equilibrada no fio da navalha e, como discutido acima, o mundo inteiro está apostando nisso. Se você já gostou de algum do meu trabalho, ou sentiu alguma simpatia por suas tendências humanitárias, por favor, saia e vote por um futuro que seja adequado para os seres humanos, por um mundo que seja mais do que a latrina dourada de suas corporações e seus fantoches.

Deixemos as iniquidades dos últimos cinco, ou talvez dos últimos quinhentos anos, para trás.

Com amor e confiança,

Seu amigo,

Alan Moore”