quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Um Punho de Ferro moldado sem Ferro e sem Fogo











Marvel-Netflix dão um basta em Punho de Ferro (E Luke Cage também foi pro saco, mas o papo aqui é sobre Kung Fu). A promessa de que o personagem não morreu pode trazê-lo novamente em aparições especiais ou em aventuras na linha de "Os Defensores". Mas o personagem era ruim? Só funcionava num grupo? O ator era fraco? Veja a seguir:

Primeiro: Um personagem só é ruim se for mal escrito. Ponto. Dito isto a série como um todo não teve bases sólidas, não teve ousadia, se restringiu a copiar porcamente a fórmula testada antes em Demolidor. A Formulinha de escrever os episódios como se fossem pedaços um loooongo filme, apesar de criativa, gera problemas sérios: Não dá unidade aos episódios, vira uma novelinha e dilui o tema em blocos tediosos.

 








Segundo: O personagem só funcionava em grupo? De maneira alguma. Um texto bem amarrado e personagens com motivações críveis e objetivos claros pode ter como foco um só personagem ou um grupo. Não existe essa lenda de que personagem tal só funciona em grupo.

Terceiro: O ator é um profissional que trabalha para dar vida ao texto que recebe. Veja o exemplo do Henry Cavill. Um ator competente, com o visual perfeito para encarnar o Homem de Aço, mas... teve o azar de pegar uma série de textos ruins e filmes sem ímpeto. O mesmo aconteceu com o Punho de Ferro. O personagem ficou confuso durante toda a primeira temporada e na segunda, por insegurança, abre mão de seus poderes no exato momento em que poderia recuperá-los. Finn Jones deu a Daniel Rand a personificação que seu texto pedia, com uma dedicação visível nas cenas de ação e uma imersão crível no caráter emocional, infelizmente o texto pobre com uma estrutura frágil não colaborou. A inserção de Tifoide Mary (vilã do Demolidor) na segunda temporada confirma a falta de criatividade ou a falta de compromisso com o background do Punho de Ferro e sua galeria de vilões.













Uma adaptação requer mudanças principalmente quando não se conta com orçamento milionário — como no cinema. Mas é plenamente possível obter concessões diante de sacadas inteligentes, e isso não significa fugir dos temas. O Dragão que é uma peça importante nos quadrinhos ficou subentendido de modo crível, K'unn L'unn foi abordada de um modo sóbrio, a relação entre Danny Misty e Collen foi bem construída. Mas aqui vale uma crítica às concessões claramente inseridas por "modismo". Danny Rand perdeu o protagonismo da série porque suas ações não eram firmes nem heróicas (culpa do roteiro) e todas as soluções dos conflitos foram redirecionadas às personagens femininas e isso não seria um problema se o protagonista da série não fosse propositalmente apagado diante disto. As personagens femininas da série são ótimas e a gente fica na torcida pela dupla Coleen e Misty reprisarem seus feitos nos quadrinhos. O que precisa ser notado é que um personagem pode brilhar sem que outro seja apagado para que isto ocorra, cedendo ou não a modismos. Ficou claro que os escritores da série sabotaram o personagem: Na primeira temporada Danny Rand participa de uma reunião na empresa onde descobre os lucros absurdos que são gerados com o monopólio de uma patente de medicamentos. A ação do herói de abrir a patente e ajudar as pessoas a terem acesso ao medicamento é duramente criticada e no fim uma ação heróica que refletia a alma do personagem é apagada e esquecida em nome de um "pseudo-realismo" que diminui Daniel Rand como personagem e retira dele uma empatia que estava começando a aparecer. Isso se repete ao longo das duas temporadas. Tudo aquilo que constitui no herói uma força a serviço do bem, uma barreira contra a iniquidade é diminuído, apagado, esquecido.



Quando o Punho de Ferro dos Quadrinhos surgiu havia uma onda de filmes de Artes Marciais no rastro do sucesso de Bruce Lee, que ganhou um contraparte na figura de Shang Chi, O Mestre do Kung Fu. Daniel Rand por outro lado tinha semelhanças inegáveis com o campeão de Karatê Chuck Norris tanto física quanto psicologicamente. Dito isto fica difícil aceitar que o apático personagem na série da Netflix seja de fato o Punho de Ferro.

Os desafios mostrados nos quadrinhos da Marvel tinham muita sintonia com filmes tipo A mão de Ferro de Shaolin, Shaolin contra os 12 homens de Aço e outros. Cenas inteiras pareciam retiradas de filmes de Kung Fu. E aqui é importante frisar: O Punho de Ferro é o Maior Artista Marcial da Marvel (na verdade um dos dois maiores, se vc contar Shang Chi), mesmo assim, na série, vemos a técnica de Danny Rand ser sobrepujada por qualquer coadjuvante ou antagonista ao bel sabor dos roteiristas. Não é difícil concluir, a esta altura que o personagem foi sabotado desde sua primeira temporada (fraquíssima) em favor de outra opção que estava sendo construída nos desejos secretos dos produtores e showrunners. No meio de sabotagens e incompetências o fim da série abre a possibilidade para uma nova leitura do personagem e caso nesta leitura o personagem encontre seu ímpeto, sua autodeterminação e o verdadeiro heroísmo, será um ponto bastante positivo. Mas na opinião deste articulista: Scott Adkins num filme adaptando à risca as primeiras aventuras do herói seria algo no mínimo histórico tanto para a Marvel quanto para os filmes de pancadaria.














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HISTÓRIA:
Criado por Roy Thomas e Gill Kane e. 1974 (na revista Marvel Premiere #15) o personagem surgiu aproveitando a fama dos filmes de Kung Fu que nos anos de 1970 atingiram um auge de popularidade. O jovem Wendel Rand encontra a cidade de K'unn L'unn e salva a vida de seu governante tornando-se seu filho adotivo. Adulto retorna para a América e tem sucesso na vida empresarial. Numa viagem de férias, acompanhado de sua esposa Heather, seu filho Danny e de seu sócio Harold Meatchum, Wendel Rand tenta reencontrar K'unn L'unn, mas é morto por seu sócio. Heather e Danny são cercados por lobos selvagens e a mãe se sacrifica para salvar o garoto que é adotado pelos monges de K'unn L'unn. Treinado nas mais letais formas de artes marciais o jovem Daniel Rand segue o caminho do guerreiro e após uma vida de treinamento árduo se vê ante a provação final: o Desafio do Punho de Ferro. Onde precisa enfrentar um poderoso Dragão milenar e ativar o poder fabuloso dos Punhos de Ferro.


PODERES:
-Daniel Rand evoca os punhos de ferro e é capaz de causar uma enorme destruição com seus socos;
-O Chi do Punho de Ferro é capas de curar ferimentos em si e em outros: veneno, cortes, concussões, contaminação radioativa etc;
-Através da Fusão mental o herói pode compartilhar ou acessar memórias, conhecimento, informações e emoções de outras pessoas;
-Pode armazenar a energia dos ataques que sofre e reutilizar a seu favor;
-Exímio lutador de artes marciais, um dos melhores do mundo. Domina todos os tipos de armas.


LINKS:
Punho de Ferro (wikipedia)
Punhos de Ferro (Protocolos MARVEL)
Conhecendo o Punho de Ferro (Duas Torres)

terça-feira, 13 de novembro de 2018

Um Adeus a Stan Lee (por Gian Danton)


Morreu Stan Lee, o homem que mudou o quadrinho, pessoas e o mundo

Sem Stan Lee não existiria Gian Danton.
No final da década de 1950 a grandiosa DC dominava o mercado de quadrinhos quase sozinha. Uma de suas concorrentes era editora pequena, composta apenas de uma sala, um editor e uma secretária. Poucos anos depois, essa editora secundária se tornaria o Davi que iria derrotar o Golias nas vendas e na imaginação do público. 


Stan Lee, o editor da Marvel, era a mente por trás dessa mudança. Junto com Jack Kirby ele criou o Quarteto Fantástico, o grupo de heróis que revolucionaria os quadrinhos com personagens bidimensionais, brigas internas, histórias em continuidade e muita, muita ação.
O método criado por ele (chamado hoje de método Marvel) permitia que artistas como Jack Kirby imprimissem um ritmo, uma agilidade, um movimento que fazia parecer que as histórias do Super-homem aconteciam em câmera lenta. Por outro lado, o texto de Lee humanizava e caracterizava cada personagem. Até mesmo personagens terciários, como o Surfista Prateado, ganhavam um background, uma história de vida, um modo de falar, uma personalidade. 


E Lee fazia questão de colocar créditos nas histórias. Ao contrário da DC, que fazia questão de esconder os nomes dos desenhistas e roteiristas, a Marvel alardeava aos quatro ventos que tinha os melhores artistas e escritores e dava nome a cada um. E mais: seus textos faziam acreditar que a Marvel era um verdadeiro mundo mágico, a casa das ideias e que a produção de quadrinhos eram uma nova forma de arte (Se estivessem vivos, Shakespeare e Michelangelo estariam fazendo quadrinhos, dizia ele). 


Fazer quadrinhos era uma grande aventura!
Como resultado, os leitores começaram a prestar atenção em quem fazia as histórias – e descobriram que havia alguém que escrevia as HQs, os roteiristas. Também como resultado, o público universitário se viu atraído pelos gibis e, com o tempo, isso abriu caminho para todo um campo acadêmico, o de pesquisadores de quadrinhos. 


Como editor, Lee tinha uma máxima, que passou ao seu pupilo Roy Thomas: se uma revista está vendendo bem, deixe o time criativo livre. Isso fez com que a Marvel explodisse em criatividade nos anos 1970, com trabalhos impressionantes como o Dr. Estranho de Steve Englehart e Frank Brunner, que levou a psicodelia do personagem ao seu nível máximo e o texto a um nível poucas vezes alcançado, antes e depois. 


O sucesso da Marvel balançou a DC, fazendo com que ela saísse de seu confortável conservadorismo. Durante anos a Distinta Concorrência, como chamava Stan Lee, fez de tudo para ser tão criativa quanto a Marvel – e conseguiu na década de 1980, quando trabalhos inovadores como os Novos Titãs, Crise nas infinitas terras e as séries autorais Cavaleiro das trevas e Watchmen balançaram a indústria de quadrinhos. 


Eu lia quadrinhos desde pequeno, principalmente quadrinhos infantis como Turma da Mônica e Disney. 


Ali pelos 15 anos eu já tinha me enjoado desse tipo de leitura. Foi quando, numa fila de banco, caiu em minhas mãos um exemplar de Superaventuras Marvel. Eu simplesmente pirei na revista e em especial naquele Doutor Estranho diferente, que flertava com a psicodelia (e que se tornaria por anos meu personagem predileto, ao lado dos X-men). E pirei mais ainda ao ver, nos créditos, o nome de quem fazia as histórias. Sim, cada HQ tinha um desenhista ... e um roteirista! Ali surgiu o sonho de ser roteirista. 


Anos depois, o compadre Joe Bennett me emprestou Watchmen, de Alan Moore e Dave Gibbons. Foi um impacto incomparável, que me fez buscar tudo que achasse escrito por Alan Moore – e fez com que eu aceitasse escrever uma história desenhada pelo compadre, a Floresta Negra.
Se Stan Lee não tivesse transformado a Marvel no que ela se tornou, eu não teria lido aquela Superaventuras Marvel e nunca teria tido o sonho de ser roteirista de quadrinhos. Se não existisse a eterna concorrência com a Marvel, a DC continuaria sendo uma editora conservadora e nunca teria publicado trabalhos tão revolucionários como Monstro do Pântao e Watchmen – e, portanto, eu não teria tido o impulso de começar e o norte do tipo de histórias que queria contar como iria contá-las.
Se não fosse a geração de universitários criada pela Marvel, que a passou a ver os quadrinhos além do preconceito, eu nunca poderia ter escrito meu TCC, minha dissertação e minha tese sobre quadrinhos.
Stan Lee mudou não só a indústria de quadrinhos. Mudou a minha vida e a de muitas outras pessoas. De certa forma, ele mudou o mundo. 


Eu poderia dizer descanse em paz, mas duvido que ele gostaria disso. Deve estar agora agitando as coisas lá no céu dos criadores.


 









IDEIAS DE JECA TATU (blog de Gian Danton)

http://roteiroquadrinhos.blogspot.com/

http://laboratorioespacial.blogspot.com/2010/10/o-astronauta-de-mauricio-de-sousa-por.html