“Futebol é uma caixinha de Surpresas” e “Em clássico não há favorito” são máximas do futebol. Máximas, axiomas, adágios ou ditados, dá no mesmo. Uma sentença razoavelmente racional cuja lógica é tão evidente que a torna socialmente aceita sem polêmica. Aqueles que já viram entrevistas ou depoimentos de Osamu Tezuca, Maurício de Sousa ou Stan Lee possivelmente já tiveram contato com esta máxima dos quadrinhos: “A coisa mais importante numa História em Quadrinhos é a História”.
E é mesmo. Tanto que em Português a palavra História vem
antes de Quadrinhos na própria denominação das HQs.Uma capa bonita pode vender
uma revista, mas uma história bem
contada é que vai garantir que o leitor queira colecionar a revista e acompanhar
a jornada dos personagens.
Assim como existem
máximas que tem um poder lógico forte e evidente existem dogmas e preconceitos
que se perpetuam por falta de análise crítica e denotam preconceito e
desinformação (ou mera imbecilidade). Por exemplo: “O Brasil não tem bons
roteiristas de HQ”.
Normalmente essas sentenças são proferidas por quem não
conhece o trabalho de André Diniz, Alexandre Lobão, Alexandre Nagado, Anita Costa Prado, Ataíde Braz, Danilo Beiruth, Daniel Esteves, Fernando
Lima, Flávio Colin, Flávio Teixeira, Gian Danton, Júlio Emílio Braz, Laudo Ferreira Jr, Leonardo Santana, Leonardo Melo, Marcelo Marat, Marcelo
Cassaro, Roberto Guedes, Wellington
Srbek ou Wilde Portela (pra manter uma lista curta e já pedindo desculpas pelos excelentes
escritores que ficaram de fora desta citação). É possível pensar que um estúdio
como o de Maurício de Sousa esteja no mercado a mais de 50 anos sem bons
roteiristas?
Generalizações tendem a ser odiosas porque tendem ao
preconceito e o preconceito anda de mãos dadas com a desinformação. Então, é
possível falar mal de roteiristas brasileiros? Sim, claro! Mas tachá-los de
ruins simplesmente porque não estão disseminados nas bancas ao lado dos títulos
importados da DC e Marvel é no mínimo falta de visão. O espaço do quadrinho
brasileiro é outro, o cenário é outro, a realidade é outra! Conhecemos Allan
Moore, Neil Gaiman, Garth Ennis simplesmente porque eles são publicados
regularmente em revistas que possuem boa distribuição e com personagens e
marcas que possuem tradição e solidez. Isso é muito mais do que se pode dizer
de 90% de qualquer quadrinho nacional.
Outra crítica comum, e igualmente descerebrada que surge
nesse contexto: "O Brasil não tem um Allan Moore ou um Neil Gaiman". Reflita:
O Brasil precisa mesmo de um Allan Moore? De um Neil Gaiman ou de um Mark
Millar? Ou o Brasil precisa de um autor que seja ele mesmo, por ser ele mesmo,
sem precisar copiar os trejeitos, gags, recursos e soluções de um gringo? Ou,
melhor ainda: será que o necessário de fato não seriam publicações sólidas e
regulares onde vários autores pudessem mostrar seu potencial enquanto são
remunerados condignamente por isso?
Não dá pra comparar a quantidade de quadrinhos publicados
por DC ou Marvel ou Bonelli com a quantidade minguada da produção nacional. Se
há bons escritores nos Estados Unidos, Europa ou mesmo Japão, dada a quantidade
absurda de títulos— esteja certo — se há bons escritores lá, há também péssimos
escritores que não ganham fama por aqui simplesmente porque não são publicados fora
do mercado de seus países. Antes de encerrar: É necessário combater essa postura ridícula de que só o que é de fora é bom, isso nega a competência do brasileiro em qualquer área.
Se você não quer parecer um idiota completo, tente não
“expelir” por aí esse dogma imbecil de que o Brasil não tem bons roteiristas.
Tudo que você vai conseguir com isso é mostrar pras pessoas que você não sabe
NADA sobre quadrinhos brasileiros.
MAIS:
Complexo de Vira-Lata
Roteiro de Quadrinhos (Blog com dicas, entrevistas e matérias sobre a produção de roteiros para HQS. Por Gian Danton)
Resenha do Livro Como escrever Quadrinhos
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Uma bela matéria só tenho que aplaudir! S e o Mercado de Quadrinhos é ainda mais apertado para quem é só o Roteirista pois como o Desenhistas não tem a mínima garantia de que vai conseguir publicar seus trabalhos não tem como buscar Roteiros e acabam publicando suas próprias histórias e um ótimo Desenhista não tem quer ser necessariamente um ótimo Roteirista!
ResponderExcluirObrigado pelo comentário, Veloso. E suas observações são, não somente assertivas mas oportunas. É necessário que editores, artistas, escritores, produtores, leitores, vendedores e distribuidores pensem melhores soluções para a produção nacional constantemente, talvez com isso esta produção atinja a remuneração condigna.
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