quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Vai procurar tua TURMA...





Todo dia alguém joga uma pedra no Quadrinho Brasileiro. Todo dia essa pedra é usada para construir uma fortificação, pois as opiniões dos detratores do quadrinho nacional a cada dia ficam mais frágeis quando materiais no nível de Turma da Tribo ganham vida.

A fórmula para um quadrinho excelente nem sempre pode ser repetida, pois conta com muitas variáveis, entretanto nesta edição é fácil perceber a união de um ótimo roteiro com um ótimo desenho e um ótimo acabamento gráfico. Financiado via edital e reunindo elementos da cultura brasileira, folclore, cenários e tipos, o resultado é um quadrinho imperdível com uma personalidade única.

Pronta para ser utilizada nas escolas como material paradidático, a Turma da Tribo oferece uma leitura que diverte, informa e estimula o debate. Saiba mais através das palavras dos próprios autores em nossa mini-entrevista:

MARREIRO: Você acha que temas brasileiros são pouco explorados pelos autores brasileiros? E nesse contexto porque exatamente "Índios"?
 
GIAN DANTON: O preconceito contra temas brasileiros já foi maior. Houve uma época que mesmo os quadrinistas torciam o nariz para um personagem com nome brasileiro. Mas mesmo assim ainda existe preconceito. E nós temos uma rica mitologia, basta que ela seja bem explorada. Quando comecei a pensar na Turma da Tribo a ideia era fazer algo nos moldes do Asterix. Sempre gostei da forma como os franceses valorizam sua cultura e isso fica bem claro no caso do Asterix. Se eles têm os gauleses resistindo aos romanos, nós temos os índios resistindo aos diversos invasores, dos portugueses aos madeireiros. Era uma forma também de chamar atenção para um tema muito atual, que é as invasões que as reservas indígenas sofrem de pessoas interessadas em ouro, madeira... Ou seja: o tema era atual e interessante. Tinha tudo para dar uma boa HQ.

Os editais de cultura são uma boa opção para viabilizar um segmento de quadrinhos mais voltados para a cultura?
 
Sem dúvida. A Turma da Tribo só se tornou viável graças a isso, até porque é um trabalho detalhado, todo em policromia, papel couchê, mas de personagens desconhecidos.
 
Só para atiçar a curiosidade dos nossos leitores, Gian, como é a Turma da tribo?
 
É uma história em quadrinhos infantil, mas que os adultos também vão gostar. Tanto o desenho quanto o roteiro são na linha franco-belga, com piadas visuais e trocadilhos. Na história, a reserva indígena é invadida por um madeireiro (o Doutor Malino, que fica emburrado quando alguém não o chama de Doutor!) e seus ajudantes atrapalhados. Os indiozinhos protagonistas serão responsáveis por evitar que ele consiga seus objetivos. 
MARREIRO: Na Turma da Tribo são notáveis os cuidados com figurinos, cenários. Vegetação e vida animal também são retratados de maneira muito crível. Qual o nível de importância da pesquisa para um trabalho como esse?
 
RICARDO MANHÃES: Vejo a “ambientação” de uma HQ, o cenário e o figurino, como uma ferramenta poderosa para contextualizar o texto e aproximar o leitor do roteiro no qual estou trabalhando. No caso da Turma da Tribo, a vegetação tem um papel fundamental visto que estamos falando das florestas brasileiras e da força da natureza.Evidentemente que nem todas aquelas plantas ou flores (vistas na HQ) existem na realidade, mas o objetivo é conceituar uma floresta “genérica” e deixar a criatividade rolar.
 
Nas artes cênicas é comum ouvir que fazer rir é bem mais difícil que fazer chorar. Como você vê essa relação nas artes gráficas?
 
Nas artes gráficas não é muito diferente. No caso da HQ de humor é necessário que os resultados gráficos façam sentido dentro do mundo fictício ou caricato que você cria, ou seja, mesmo se tratando de uma “distorção”, aquilo tem que funcionar dentro de um padrão estabelecido. Digamos que, sim, é mais difícil fazer rir do que chorar.
 
O que acha da utilização de temas brasileiros/regionais (boiadeiros, pantaneiros, cangaço, etc) para a produção de quadrinhos? Pode haver uma ligação maior entre esses quadrinhos e as escolas?
 
Acho que é um excelente caminho para as HQs nacionais. O que temos aqui no Brasil, como costumes e cultura só existem aqui. Quem melhor que nós mesmos para retratar o Brasil? Acho que o momento é esse.
Quanto à ligação entre quadrinhos e escola, vejo que a própria Turma da Mônica mostra que as HQs são um importante veículo na alfabetização e na criação de um futuro público leitor, seja de quadrinhos ou romances. Espero que o Brasil siga nesse caminho, que pelo menos no que diz respeito às HQs, promete um grande futuro.
Obrigado, João, pela entrevista. E continue sendo essa referência que você é.

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