quinta-feira, 20 de abril de 2023

Nós, Robôs.


 

Homônimo diz respeito aquilo que possui o mesmo nome, embora diga respeito a objetos (ou pessoas) diferentes. Exemplos: Duas pessoas chamadas José; Duas ruas chamadas 13 de maio; Duas, ou mais, histórias chamadas “Eu, robô”.



Em 1939, a revista Amazing Fantasy, publicou a história curta (chame de conto caso queira) intitulada “Eu, Robô”, assinada por Eando Binder. Eando era o pseudônimo usado pelos irmãos Ealr e Otto Binder ( E and O Binder). Otto ficou famoso como editor e escritor de quadrinhos, entre seus trabalhos estão a criação da Mary Marvel, Adão Negro e outros (para a Fawcett Comics), e posteriormente, para a DC Comics: Supergirl, Kripto, Bizarro, Legião dos Superheróis, Brainiac, A cidade de Kandor entre outras coisas. Já o irmão de Otto, Earl, passou a dedicar-se à função de agente literário.

A narrativa de “Eu, Robô” acompanha o caso de Adam Link, um Robô acusado de assassinato. O impacto no público fez com que a dupla de autores trouxesse o personagem novamente em outras histórias. O livro de Isaac Asimov , que tem o mesmo nome, não possui nenhuma relação direta com o material dos irmãos Binder. Consta que o título da coletânea de Assimov foi uma imposição do editor à revelia do escritor.

Então, vamos lá: I, Robot (História Curta da Amazing Fantasy) ≠ I, Robot (Coletânia de Contos de Isaac Asimov).

O filme Eu, Robô (2004) estrelado por Will Smith com direção de Alex Proyas (O Corvo, Cidade das Sombras, Deuses do Egito) tem roteiro assinado por Akiva Goldsman e Jeff Vintar. A inspiração teria vindo de uma história de Agatha Christie. Curiosamente não aparecem referências ao material dos irmãos Binder em nenhuma resenha do filme, embora a premissa de ambas as histórias seja a mesma: um robô acusado de assassinar um humano. Elementos e personagens dos contos de Asimov foram inseridos no roteiro.

Então até aqui: I, Robot (História Curta da Amazing Fantasy) I, Robot (Coletânia de Contos de Isaac Asimov) I, Robot (Filme de 2004 que tem a mesma premissa da história original dos irmãos Binder somada a elementos dos contos de Asimov)


 

Caminhando para fechar nossa matéria. A história publicada na Amazing Fantasy ganhou duas adaptações na série The Outer Limits (no Brasil, Quinta Dimensão). Ambas muito bem produzidas e ambas com a participação de Leonard Nimoy (O célebre Sr. Spock de Jornada nas Estrelas). A primeira versão é de 1964 (Outer Limits, segunda temporada , episódio 9). Direção Leon Benson. Elenco: Howard da Silva, Ford Rainey, Marianna Hill, Leonard Nimoy. O advogado aposentado Thurman Cutler (Howard da Silva) parece ser o único com estômago suficiente para enfrentar toda a sociedade que anseia condenar o acusado robótico antes mesmo do veredito do julgamento. 



 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A refilmagem do episódio I, Robot em The Outer Limits (1995) Teve direção de Adam Nimoy, filho de Leonard Nimoy que aqui interpreta o audacioso advogado Thurman Cutler. É curioso ver a evolução dos recursos tecnológicos e as diferenças na construção narrativa das duas versões. Tão interessante quanto ver Nimoy retornar a esta mesma história num outro papel e numa outra abordagem. Também no elenco desta versão estão: Cynthia Preston, Barbara Tyson, Ken Kramer e John Novak.


 

 A trama de I, Robot (Eondo Binder) inspirou em Jornada nas Estrelas – A Nova Geração, um de seus mais inesquecíveis e profundos episódios: The measure of a Man, 1989 (O Valor de um Homem, segunda temporada, episodio 9 - S02E09). Neste episódio o androide Ten. Com. Data está prestes a ser desmontado para o avanço da ciência e isto se torna uma disputa judicial entre os burocratas da Frota (que querem desmontá-lo) e o Capitão da Enterprise-D que não tem interesse em ver um honrado membro de sua tripulação desmontado como um objeto. 

 


Durante o julgamento, o Capitão Picard questiona se ao reproduzir Data aos milhares, não seria criar uma nova raça (uma nova espécie). Noutro momento a reflexão continua apontando que no futuro alguém seria capaz de replicar Data, mas isto acabaria por revelar muito sobre a humanidade em si. Aqui vale a reflexão sobre o fato de Jornada nas Estrelas ser em seus fundamentos, conceitos e raízes, uma ficção científica UTÓPICA. Vale também salientar que em função de escrever uma história mais aventuresca, a segunda temporada da série Picard apresenta uma cepa de androides (chamados na série de trabalhadores sintéticos) sendo usada pelos romulanos para provocar cerca de 92.000 mortes — contradizendo assim os propósitos utópicos calcados no surgimento da série. Ou seja, em alguns momentos precisamos lembrar que produtores e roteiristas estão focados em conquistar novas audiências e gerar fluxo de caixa e, se no processo for necessário ignorar o cânone, assim será.  


 

Na série The Orville (uma série de humor e ficção científica criada por Seth McFarlane) o androide Isaac (clara referência a Isaac Asimov) possui dilemas semelhantes à sua contraparte na Nova Geração, o Ten. Com. Data. Os episódios focados em Isaac —e em sua espécie, os Kaylons— aprofundam o tema das formas de vida artificiais e seu uso como serviçais escravizados. Em diversos momentos Orville parece mais alinhada com o espírito de Jornada nas Estrelas que as atuais derivações da franquia, em sua maioria destituídas do ethos original.

Ao longo do tempo a Ficção Científica tem proposto reflexões sobre os mais diversos aspectos relacionados à formas de vida artificiais. Agora, em 2023, com a Inteligência Artificial andando a passos largos e robôs com tecnologia para andar, correr, saltar e copiar expressões faciais, já estamos diante do desenvolvimento dos primeiros androides. Desde a Revolução Industrial, tem ficado claro que o avanço tecnológico tem servido mais às minorias abastadas do que à civilização em si. Certamente não temos as respostas para a infinidade de questões filosóficas, morais, sociais e econômicas que surgem diante desse cenário, mas nos cabe o direito à dúvida, muitas talvez, e entre elas, esta: o quão estamos prontos para este tipo de realidade que se configura no nosso entorno?


 

 

Referências:

https://www.worldswithoutend.com/author.asp?ID=7398

https://darkworldsquarterly.gwthomas.org/the-early-eando-binder/

http://bdmarveldc.blogspot.com/2017/07/eternos-otto-binder-1911-1974.html

https://en.wikipedia.org/wiki/I,_Robot_(short_story)

https://pt.wikipedia.org/wiki/I,_Robot_(filme)

https://www.imdb.com/title/tt0667904/

https://theouterlimits.fandom.com/wiki/I,_Robot_(1995)#Cast

https://www.imdb.com/title/tt0667816/

https://graemesliterarytimemachine.wordpress.com/2016/01/29/1939-i-robot-and-other-amazing-stories/

https://en.wikipedia.org/wiki/Adam_Link

VIDEOS:

Outer Limits: I, Robot (1964) s02E09 https://www.dailymotion.com/video/x6okyj2

Outer Limits: I, Robot (1995) s01E19 https://www.dailymotion.com/video/x6tzf3i

https://www.hoodedutilitarian.com/tag/i-robot/  

http://blacknwhiteandredallover.blogspot.com/2014/05/post-57-i-robot-memoirs-of-adam-link.html

http://mylifeintheglowoftheouterlimits.blogspot.com/2014/11/episode-spotlight-i-robot-11141964.html  

2 comentários:

  1. Adam Link foi adaptado em quadrinhos: Na revista Weird Science-Fantasy da EC Comics em 1955 (edições 27-29) e novamente para Creepy da Warren Publishing em 1965-67 (edições 2, 4, 6, 8–9, 12–13 e 15). Nas duas editoras, roteiros de Binder e desenhos de Joe Orlando. Mas não adaptaram tudo. Em 1964, uma adaptação de "Adam Link's Vengeance" foi publicada no fanzine Fantasy Illustrated #1, com roteiro de Otto Binder e ilustrado por D. Bruce Berry e Bill Spicer, a adaptação ganhou o Alley Award de Melhor Fan Comic Strip do mesmo ano.

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  2. Excelente acréscimo, Quiof! Se houvesse mais comentários como esse a Internet certamente subiria de nível. Obrigado.

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