Impressões negativas acerca do mais recente filme com
Quarteto têm sido propagadas por diferentes dimensões da mídia. Porém até que
ponto serão procedentes? Antes de prosseguir no questionamento da crítica (que,
desde já, este articulista reconhece como desmedida), gostaria de convidar o
distinto leitor a ponderar sobre alguns dos pontos pelos quais considero a obra
digna de um segundo olhar:
1 - Todos os muitos personagens foram bem introduzidos e
desenvolvidos.
Claro que em diferentes níveis. Reed, futuro líder da
equipe (papel que lhe fora devidamente assegurado em combate, no momento
climático da ação) recebera maior atenção e cuidado desde o princípio. Não
hesito em reconhecê-lo como protagonista. Assim como não preciso digitar uma
linha sequer para convencer alguém de que o antagonista óbvio é o menino da
Latvéria. Entretanto eles não foram os únicos aos quais os autores
dedicaram-se.
Numa narrativa que tem como premissa abordar não apenas
uma figura, mas todo um grupo, uma equipe de seres excepcionais, um dos maiores
desafios dos narradores é conferir a cada personagem a devido enfoque,
valorizando tanto motivações quanto perfil comportamental, além das implicações
(lógicas) das relações entre esses personagens.
Como já admitido acima, Reed foi o que recebeu um tanto
mais de atenção, porém todos foram suficiente contemplados em todos os
critérios supracitados. E o que é melhor: de modo funcional para a trama.
2 - A apresentação dos personagens não se deu em
detrimento da “ação”.
Uma história de origem carece não apenas de alicerçar um
cenário e posicionar personagens no mesmo, mas de oferecer desafios dignos
dessa conjuntura e também do público. E isso, eu confesso que receava não
chegar a ver. Enquanto assistia ao filme, pensei lá com meus botões: “Nesse
ritmo, todos os personagens serão suficiente explicados, no entanto, quando
chegar o momento da ação, ela não há de se adequar ao ritmo”. Felizmente, esse
meu receio revelou-se infundado. Essa transição, da etapa em que constroem-se
os personagens para o irromper do grande conflito, harmonizou-se no mais
perfeito ritmo. Fiquei verdadeiramente surpreso com esse timing.
No “primeiro ato” da narrativa, a alienação social e
familiar funciona como fator de inclusão, tanto para o quarteto como para Von
Doom. Esse aspecto determina o tom de muitas das ações e é, se não intrigante,
ao menos divertido assistir como isso se dá.
Segue Spoiler leve. Spoiler nível Vigia (beira a
irrelevância): Ver Reed Richards fracassar em sua vida escolar, devido a seu
desempenho incompreensivelmente à frente de seu tempo, fez-me rir (se me
permitem o parêntese, eu diria que há uma lição importante aqui). Mas não é de
comédia que se trata.
Selecione com o mouse para ler o spoiller.
O mote do filme guarda mais estreita relação com os
efeitos colaterais de um experimento científico de vulto. Convém lembrar aqui
que as histórias do Quarteto são baseadas em fórmulas comuns à maioria dos
heróis mascarados, não obstante também às muitas narrativas de ficção
científica que a própria Mavel produzia em meados dos anos cinquenta. Nesse
quesito, se o filme não chega a ser um prato cheio, também não deixa a desejar.
Há ação suficiente. E de interesse.
4 – O conjunto da obra em que se baseia o filme é
suficientemente respeitado.
Bordões e atitudes foram referenciados de maneira que
pareceu deveras natural. Sobre a origem de Von Doom... Ela se tornou mais
consistente e, para esta obra em particular, mais coerente e consequentemente
funcional do jeito que está.
Esses são quatro pontos que bastam para salvaguardar o
filme da chuva cósmica de críticas pueris (muitas das quais, embora pueris, têm
minha coadunância) que veem caindo sobre o filme. Não pense, entretanto, que
considero o Quarteto uma obra prima. Ele poderia ser ainda melhor. De fato, bem
melhor. Mas daí a dizer que é um filme “ruim”... Isto sim me soa fantástico.
Quarteto Fantástico
Lançamento 2015
Direção:
Josh Trank
Música:
Philip Glass, Marco Beltrami
Roteiro:
Josh TRank, SImon Kinberg, Jeremy Slater
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