Imagine-se em um típico tiroteio de Bang-Bang. Não o duelo
convencional (um contra um, ao pôr-do-sol), mas sim naquela cena em que, com um
ou no máximo dois colts carregados (entenda-se seis balas em cada tambor e
pouquíssimas no coldre) você adentra uma cidade semideserta e encontra-se
cercado de um sem número de rufiões, ocultos em cada esquina, todos a postos e
aptos para dar cabo de sua vida.
Ora, numa enrascada dessas, você não há de desperdiçar nem
um tiro sequer, certo? E, caso possa derrubar dois inimigos com uma mesma bala,
é precisamente isso que fará! Pois sabe que, a despeito de suas habilidades, a
munição é escassa e não mais abundantes serão os momentos em que poderá
recarregar o tambor. Cada tiro é vital! E, fatalmente, chegará o momento em que
só lhe restará uma bala. Quanto ao número de contendores a serem obliterados?
Você não sabe...
Esse tipo de raciocínio é de suma conveniência aos
apostadores do mercado de quadrinhos brasileiro. Um pensamento linear, do tipo “One-Shot”.
A expressão, de origem inglesa, vem sendo empregada para denotar as HQs cujo
começo, meio e fim de uma narrativa são contemplados num mesmo episódio. Os
quadrinhos one-shots não preveem ou requerem, para uma sensação de conclusão ou
encerramento da narrativa, de um segundo ou terceiro episódio. Eles são autossuficientes
e isso desobriga o leitor de acompanhar uma série para sentir que usufruiu do
toda da história, apresentada-lhe casualmente.
Por que tal raciocínio é tão adequado aos autores e
publicadores de quadrinhos daqui? Porque a maior parte das experiências
passadas com séries envolveu um penoso processo de descontinuação. Fato que
deve-se à escassez de investimentos no setor, ainda incipiente em muitos
aspectos, afora várias outras razões.
Todavia, com este artigo não pretende-se inferir que
histórias autoconclusivas são potencialmente superiores a narrativas
serializadas (embora a opinião deste articulista, reconhecidamente, tenda a
isso). Também não intenta-se afirmar que histórias capitulares (constituída de
vários capítulos publicados separadamente) deveriam ser banidas do contexto
editorial brasileiro... Nem poderiam. Afinal é de conhecimento comum que ambos
os modelos têm sua importância ficcional e editorial.
A bem da verdade, o ponto crucial deste texto é... Num
mercado ainda inóspito como o do quadrinho brasileiro, são parcas as garantias
de que um leitor (convencional ou não) há de conceder um segundo olhar à sua
obra.
Portanto recomenda-se: Se você é um autor e oferece ao
público uma experiência de leitura, trate de apresentar algo representativo do
todo do seu trabalho. Algo que tenha consistência, que fale por si, que
sustente-se sobre as próprias bases.
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